12 dezembro 2010

Sinfonia do Superman entre as indicadas ao Grammy

Michael Daugherty tirou a sorte grande nas indicações ao Grammy deste ano. Uma gravação da Nashville Symphony de duas de suas peças, “Metropolis Symphony” e “Deus Ex Machina”, está entre as cinco candidatas ao prêmio. Isto é particularmente impressionante dado que a Metropolis Symphony foi escrita no final dos anos 1980.

Daugherty diz que, quando ele escreveu a peça, a maioria dos compositores estava escrevendo música abstrata. “Às vezes, quando você compõe uma peça, ela pode estar um pouco à frente do seu tempo. E esse pode ter sido o caso [desta sinfonia]”, disse Daugherty. “Eu pensei que seria uma boa oportunidade de voltar no tempo, aos dias em que li aquela história em quadrinhos”.

Apesar da Metropolis Symphony ser inspirada no Superman, ele não foca exclusivamente no homem propriamente dito. “É sobre as pessoas à sua volta, o ambiente em torno dele”, diz o compositor. “Somente no final é que. com o ‘Red Cape Tango’ – a morte do Homem de Aço – nós olhamos diretamente para ele”.

O quarto movimento, “O, Lois!”, é uma referência a Lois Lane, a repórter colega e amada de Superman. É o mais rápido dos movimentos – de fato, a marcação do tempo nos compassos iniciais, “mais rápido que uma bala de revólver”, é também, talvez, a parte em que a composição mais se aproxima da atmosfera dos quadrinhos. Daugherty diz que buscou inspiração na pop art e em séries de televisão como a do Batman.

“Deveria haver um ‘crash’, ‘bang’, ‘boom’ – e deveria haver um desenho com esses dizeres”, diz Daugherty. “Eu o fiz com a percussão”.

Mais poderoso que uma locomotiva

A segunda metade da gravação apresenta uma composição mais recente de Daugherty, terminada em 2007, intitulada “Deus Ex Machina”. É essencialmente um concerto para piano que Daugherty diz ter sido fortemente influenciado por trens.

“Eu sempre fui fascinado por trens”, diz ele. “Quando eu morava em Cedar Rapids, Iowa, a janela do meu quarto, que ficava no segundo andar da casa, permanecia aberta durante a noite, o que me permitia sempre ouvir os trens que vinham apitando. Eu achei que isto poderia servir de tema para uma peça”.

O segundo movimento é sobre um trem específico: o trem de sete vagões que transportou o corpo de Abraham Lincoln. Ele começou o seu percurso em Washington, D.C., passando por várias cidades americanas até chegar ao seu destino em Illinois. Ao longo do caminho, centenas de milhares de pessoas viram o presidente assassinado.

“Aquele foi realmente o primeiro funeral itinerante de um presidente”, diz Daugherty. “Lincoln havia sido a pessoa que alocou recursos federais para a construção da malha ferroviária da América. Foi graças a esta sua visão como presidente que se desenvolveu o sistema nacional de trens”.

O primeiro minuto do movimento começa suavemente no piano e cresce gradualmente com as trompas e os carrilhões.

“No início da peça, o piano toca lentamente porque o trem está se movendo vagarosamente”, diz Daugherty. “Depois de algum tempo, passamos a ouvir, também, o barulho repetitivo das rodas sobre os dormentes”.

Daugherty sempre faz uma ampla pesquisa antes de cada peça que compõe. Para ter uma noção do que as pessoas devem ter sentido ao presenciarem a passagem do trem fúnebre, ele visitou Gettysburg, Pa, onde Lincoln fez seu discurso histórico.

“Eu caminhei pelas ruas de Gettysburg durante um dia inteiro”, diz Daugherty. “Estar naquele ambiente foi o bastante para que eu tivesse a inspiração para esse movimento”.

E a inspiração para a Metropolis Symphony? “Andar por Nova Iorque inspira qualquer um a escrever alguma coisa”.



(fonte: npr)

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