25 julho 2009

O Milagre da Música




Já ouvi a Nona Sinfonia, quem sabe, algumas centenas de vezes, e mesmo assim até hoje não consigo deixar de me surpreender com ela. Não é somente a obra em si que me fascina, mas o fato de ter sido composta por alguém que não podia ouvir.

É costume dizer-se por aí que a surdez libertou Beethoven das amarras do convencional, do acadêmico. Mas isso só não basta para explicar o alto nível artístico atingido por ele em suas últimas obras.

Buscando uma teoria, pensei no seguinte: por volta dos quarenta anos de idade, Beethoven já tinha alcançado tamanho grau de musicalidade que poderia prescindir da audição normal para continuar compondo. Ou seja, ele podia, literalmente, “ouvir” as suas músicas em seu cérebro enquanto as criava.

Para o indivíduo comum, tal habilidade parece coisa do outro mundo. Isso contribui fortemente para cristalizar o conceito de que Beethoven era um ser humano especial. Se ele não tivesse existido (nem ficado surdo), esse tipo de habilidade talvez figurasse apenas no terreno das possibilidades. Mas Beethoven existiu, e já que uma teoria se faz necessária sempre que ocorre um fenômeno aparentemente inexplicável, aqui vai a minha.

Para começar, a genialidade de Beethoven não reside exatamente no fato de ele ter sido capaz de compor sinfonias mesmo depois de surdo, mas na qualidade de sua obra. Teria sido gênio ainda que houvesse tido uma audição perfeita. Há uma cena no filme Amadeus que bem ilustra o que estou dizendo. Antônio Salieri está na sala onde Mozart é aguardado para reger a sua própria obra, e resolve ler uma das partituras que encontra. Quem não se lembra de seu êxtase (só interrompido pela chegada de Mozart) enquanto sorvia as notas, os acordes, a música, enfim, que se formava em sua mente à medida que lia aquela partitura? Meus professores chamam isso de “ouvido interno” – uma habilidade que se adquire com o treino, ou com a simples vivência musical. Beethoven, Salieri, Mozart, Bach, e todo mundo que tenha passado pelo menos uns dez anos de sua vida escrevendo músicas suficientemente complexas, possui essa habilidade em maior ou menor grau.

Há vários estágios na evolução de um músico, e a capacidade de “ler à primeira vista” é, por exemplo, somente uma entre tantas que se pode adquirir já num estágio intermediário. Após muitos anos de prática, o artista que se acostuma a ler (e, principalmente, a escrever) partituras orquestrais, descobre que é capaz de realizar o que, para a maioria dos mortais, representa uma verdadeira proeza: “ouvir” uma peça orquestral só de olhar para a sua partitura.

Quase todos os dias surgem exemplos impressionantes do que o nosso cérebro é capaz de fazer. O pianista João Carlos Martins, por exemplo, recuperou os movimentos de sua mão direita mesmo após os danos sofridos pela região de seu cérebro responsável por aquela parte do corpo (causados por uma coronhada que um bandido lhe aplicou na cabeça durante um assalto na Bulgária), graças a sessões de “reprogramação cerebral”, que transferiram para uma outra região do seu cérebro funções que haviam se perdido com o tecido lesionado.

Pois é, compor músicas sem poder ouví-las deve ser mais ou menos como pintar quadros sem poder vê-los, não é mesmo? O que dizer, então, de Esref Armagan, que é cego de nascença e pinta melhor do que eu mesmo conseguiria?

Este artigo da Science Daily trata da descoberta de que os surdos analisam as vibrações sentidas pelo corpo usando, inconscientemente, a mesma região do cérebro normalmente dedicada à audição. Isso significa que, de fato, um surdo pode chegar a “ouvir” uma música através das suas vibrações, e não simplesmente sentí-las tatilmente.

Quero terminar este post oferecendo um brinde a vocês, que gostam tanto quanto eu de Beethoven. Sugiro que ouçam (e vejam, naturalmente) o vídeo abaixo: trata-se da mesma gravação histórica da Nona Sinfonia de Beethoven que eu ouvi há 27 anos atrás, sob a regência de Furtwangler (este vídeo é somente o primeiro de quatro – vale a pena ouvir todos). E não deixe de ouvir, também, essa outra maravilha que eu coloquei a seguir. É de outro grande compositor – Lully, e me lembra demais a época em que eu fiz parte de um grupo de música antiga. Um brinde à Música.








Provérbios não tão chineses assim...

Dentro ainda do tema “Provérbios Chineses” (mas passando a “parsecs” de distância deles), coloco aqui algumas das muitas frases de efeito publicadas pelo jornalista “cairoca” Leon Eliachar. Servem ao menos como um teste psicanalítico: se achar graça delas, você está num bom dia; se cismar com a cor das letras, você está deprimido.





“A imprensa foi feita para orientar a opinião pública, mas, em verdade, é a opinião pública que orienta a imprensa.”

"A mulher ideal é a eventual."

“A paz ainda não foi inventada.”

“A personalidade de um homem é um conjunto de gestos e roupas, as palavras e os pensamentos não importam muito.”

“Adultério: É isso que liga três pessoas sem uma saber.”

"Algumas mulheres são contra o biquíni porque o biquíni é contra elas."

"As estatísticas não falham: para cada homem solteiro há sempre uma mulher casada."

“As fantasias mais usadas no carnaval são: homem vestido de mulher e mulher vestida de nada.”

"As mulheres são sempre muito queridas. Umas quando chegam, outras quando partem."

"Biquini: Um pedaço de pano cercado de mulher por todos os lados."

“Com a primeira folha de parreira surgiu o primeiro problema da moda feminina: onde colocá-la?”

"É sim, irmão - convém não esquecer que o dinheiro não é tudo na vida. Tudo na vida é a falta de dinheiro."

“Este livro é apenas uma pequena parte; tenho material para pelo menos mais dez livros. Depende de você para que os outros dez sejam publicados, é uma responsabilidade que lhe passo. Durma bem.”

“Há dois tipos de mulheres: a nossa e a dos outros.”

“Herói é o sujeito que teve a sorte de escapar vivo.”

“Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico para se fazer.”

"Mais vale dois carros na contramão que uma mulher na mão."

"Mulher que se preza não mente: inventa verdades."

"O casamento civil é o que ninguém vê; o religioso é onde todo mundo se vê."

“O casamento foi inventado há milhares de anos, pra evitar que o homem tivesse mais de uma mulher, o que felizmente ainda não conseguiu até hoje.”

“O chato da bebida não é o mal que ela pode trazer, são os bêbados que ela nos traz.”

”O cinema é uma arte complexa e inexplicável: de cada dez filmes americanos, um é otimo, dois são bons, três regulares e quatro fracos. De cada dez filmes nacionais, todos dez são de boa qualidade.”

"O divórcio é uma chance que se dá ao indivíduo para errar outra vez."

”O homem pode mudar de idéia de uma hora para outra que a gente não nota diferença, mas quando muda o estilo da camisa ou o nó da gravata é capaz de não ser reconhecido.”

"O homem se casa para ficar em casa. A mulher para sair."

"O homem se casa para vencer a solidão, a mulher para ficar só."

"O homem se casa por descuido. A mulher, por precaução."

“O turfe não é jogo de azar. A gente joga sabendo que vai perder.”

"Pontualidade é a coincidência de duas pessoas chegarem com o mesmo atraso."

"Procuro manter sempre o mesmo nível de humor, mas a culpa não é minha: tem dias que o leitor está mais fraco."

"Quando um homem se casa passa a alimentar duas bocas e a calçar quatro pés."

"Quando chega ao altar, a mulher diz o último 'sim' ao homem."

“Segredo é isso que vai rolando de ouvido em ouvido e volta sempre com mais detalhes.”

“Só poderemos melhorar o mundo distribuindo a verdadeira fé entre todos os povos do mundo.”

"Um homem casado vale por dois. A maioria deles sustenta duas casas."

“Vício é o que sempre estamos fazendo pela última vez.”

"Viver honestamente é fácil, difícil é viver desonestamente."



24 julho 2009

O Poeta Matuto




Ontem, dia 23 de julho, foi aniversário do radialista Geraldo Ferreira da Silva – o Geraldo do Norte (conhecido, também, como o “Poeta Matuto”), da Rádio Nacional. Parabéns, Geraldo, pelos seus cinquenta anos de vida.

Eu sei que você, meu caro (e raro) leitor, deve estar achando esse assunto um pouco estranho. Afinal, a minha lista de artistas já era tão diversificada (com nomes que iam de Bach a Guilherme Arantes, e de Tom Jobim a Wendy Carlos, por exemplo)...

Deixe-me explicar. Eu gosto mesmo é de Arte – e, mais especificamente, de Música. A Música, para mim, é como o ar que nos rodeia, que todos nós respiramos, e ela será boa ou ruim por si só, independentemente de gênero, credo, cor, classe social, formação acadêmica ou cultural. Dito isto, quem sabe não esteja mais claro o motivo pelo qual eu sou tão eclético?

O mais comum é que as pessoas tenham algum gênero de sua preferência. Tem gente que prefere o rock, outras que preferem o samba, e ainda as que só curtem mesmo um “batidão”. Tem as que abominam tudo isso, mas adoram música erudita, por exemplo.

Mas há também os que se acham ecléticos. Dizem-se abertos a tudo, “desde que seja bem feito”. A maioria deles, na verdade, pode até gostar de muita coisa, mas tem sempre um gênero que eles chutam para escanteio.

Eclético sou eu, que consegue encontrar boa música em qualquer lugar, sem preconceitos quanto ao gênero. Encontro maravilhas, por exemplo, nas obras de Paulinho da Viola. E também nas de Adoniran Barbosa, Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça, sem falar em Noel Rosa, Caetano, Gil, Chico, Francis Hime, Beatles, Rolling Stones, Queen, Rick Wakeman, Yes, Elton John, Guilherme Arantes, Michael Jackson, Renato Teixeira, Almir Sater, Lenine, Vangelis, Paulinho Moska, Marina Lima, Mozart, Geraldo Azevedo, Pink Floyd, 14-Bis, Flávio Venturini, Milton Nascimento, Bach, Paul Mauriat, Lô Borges, Telemann, Renato Russo, Brahms, Schöenberg, Cazuza, e por aí vai...

Não creio em gêneros ruins. A boa música pode germinar em solos dos mais variados tipos. É claro que um terreno fértil ajuda. Por outro lado, o mérito do artista é maior se ele nos surpreende com obras-primas que florescem em pleno deserto...

Não havendo algum gênero de que eu goste mais ou, ao contrário, que eu não suporte, talvez eu mesmo seja uma exceção, uma anomalia. Afinal, quem poderia gostar ao mesmo tempo dos quartetos para cordas de Beethoven e dos versos de Geraldo do Norte?

Mas eu não me considero uma anomalia. Costumo pensar da seguinte forma: “sou o extremo oposto de um purista”. Ou seja, um purista “às avessas”.

E, de fato, eu detesto os puristas. O purismo, na minha opinião, não passa de uma grande besteira. É somente o disfarce preferido dos que não gostam de Música mas querem que todos acreditem no contrário. Quem gosta mesmo de Música não pode ser purista. E repudiar o que fez, por exemplo, José Ramos Tinhorão que, provavelmente insatisfeito com sua enciclopédica obscuridade, parece-me que tentou dar um sentido maior à sua vida perseguindo artistas do quilate de um Antônio Carlos Jobim, com insinuações de que ele era um mero “adaptador” de temas alheios.

N um próximo post, pretendo mudar radicalmente de assunto. Que tal falarmos sobre a Nona Sinfonia de Beethoven?





23 julho 2009

Verde Vertente


Faço questão que você conheça a música com o título acima. Mas, antes, deixe-me contar mais um “causo”:

Em 1975 ou 1976 eu havia me “viciado” em música. Passava o dia inteiro (quando não estava na escola) ouvindo rádio (meu pai não me dava dinheiro suficiente para eu comprar meus próprios discos, infelizmente...). A moda era o Rock Progressivo, do Yes, Rick Wakeman, Pink Floyd, Camel, Mahavishnu Orchestra, Focus, Kraftwerk, Tangerine Dream, etc. E havia somente uma emissora especializada nesse tipo de música (ao menos no Rio de Janeiro): a Eldo Pop (98,1 MHz).

Mas a Eldopop tocava uma música atrás da outra sem nos dar a menor informação a respeito delas. Ouvi, dessa forma, muita coisa boa, e nunca fiquei sabendo do que se tratava. Numa das vezes em que eu resolvi sair gravando tudo o que eles punham no ar, acabei “capturando” uma música que me impressionou não somente pela qualidade mas também pelo fato de ser cantada por brasileiros. Digo isso porque, de vez em quando, eles tocavam um Gil, um Caetano, mas nunca algo de um brasileiro que se pudesse classificar como rock progressivo. Eu estava diante, portanto, de uma surpreendente exceção. Mas, quem seriam eles?

Mostrei a gravação a um amigo – que costumava ser muito mais bem informado do que eu nesses assuntos – mas ele também não soube identificá-los.

Não fosse a sorte de tê-la gravado, eu a teria ouvido somente uma única vez. Não a ouvi mais na Eldo Pop, que, pouco tempo depois, acabou virando outra rádio – a 98 FM - passando a tocar outro tipo de programação, totalmente diferente (leia a história dessa rádio). E, para piorar as coisas de vez, perdi a fita com aquela gravação.

Um dia, a Rede Globo começou a exibir a novela Anjo Mau. Eu não assisti a um capítulo sequer, mas cansei de ouvir “Meu Mundo e Nada Mais”. Aliás, na primeira vez em que a ouvi, achei a voz do cantor muito parecida com a daquela gravação – parecida até demais!

O cantor/compositor dessa música é Guilherme Arantes. Com ela (e com o auxílio ou não da novela), Guilherme chegou ao estrelato. E eu fiquei com aquele “pulga atrás da orelha”. Aliás, pulga não. Era um elefante mesmo. Não somente a voz era igual. O estilo de cantar - e, de certa forma, o da própria música - eram também iguais. Eu tinha quase certeza disso. Pensei em pedir a opinião de mais alguém, mas, sem a gravação, ninguém poderia me ajudar. Nem tentei. Mas lembrei-me de procurar aquele meu amigo, afinal ele havia ouvido a minha gravação. Infelizmente, ele não se lembrava mais da voz (também pudera: quem se lembraria de uma voz que ouviu uma única vez um ou dois anos antes?). Sendo assim, deixei essa história de lado.

Mas o tempo passou... e aí veio a Internet, o Google e, principalmente, a Wikipedia e o YouTube. No ano passado, lembrei-me de ver o que o Google tinha a falar sobre Guilherme Arantes. Entre tantas referências a seu nome, selecionei a da Wikipedia (Santa Wikipedia!). Não deu outra: lá estava a menção a um grupo de rock progressivo chamado Moto Perpétuo, do qual Guilherme tinha sido tecladista, vocalista e compositor.

O grupo existiu entre 1974 e 1975, e jamais fez o sucesso que merecia, permanecendo totalmente desconhecido do grande público.

Mas o que eu queria mesmo era a música, e o Google já tinha feito por mim mais até do que eu esperava dele.

O meu próximo passo foi, então, procurar “Moto Perpétuo” no YouTube. E não é que eu achei uns videozinhos? Como eu não sabia o nome da música, o remédio foi ouvir uma, duas, três músicas... até que cheguei à quarta música, VERDE VERTENTE, que era exatamente a que eu procurava!

Eu já nem me lembrava mais de muitos de seus detalhes. Embora a qualidade do som não seja das melhores, é o suficiente para que se aprecie o arranjo feito com muito esmero (que vai se tornando mais complexo com o decorrer da música). Por enquanto, estou muito satisfeito com este reencontro.

Eis, então, o “causo”, e eis a música, que é o que realmente interessa:



20 julho 2009

Eumir Deodato e O Homem na Lua


Neste exato momento, há quarenta anos atrás, dois homens - os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin - estavam a poucas horas de concretizar o inimaginável (mesmo em nossos dias): colocar os pés na Lua. É, até hoje, considerado o feito mais impressionante da Ciência. Se lançamentos de Space Shuttles (que têm pouco mais que a metade da altura de um Saturno V) já são eventos inesquecíveis para quem os assiste ao vivo, imagine, então, o que não terão sido os lançamentos do Programa Apollo. Quem já foi ao Apollo-Saturn V Museum, no Kennedy Space Center, ou ao Davidson Center for Space Exploration, em Huntsville, no Alabama, Estados Unidos, e pôde ficar frente-a-frente com um dos foguetes Saturno V que não chegaram a ser lançados, simplesmente não acredita que algo tão grande e pesado (110 metros de altura e milhares de toneladas) conseguia sair do chão em perfeita estabilidade e ainda acelerar uma cápsula espacial a quase 40 mil quilômetros por hora.


Um ano antes, os cinemas do mundo todo haviam exibido “2001, a Space Odissey” (2001, Uma Odisséia no Espaço), de Stanley Kubrick (o mesmo diretor de filmes como Lolita, Spartacus, Dr.Fantástico - e que viria, mais tarde, a trabalhar com Wendy Carlos em Laranja Mecânica e O Iluminado). Foi a partir desse filme que passamos a associar os majestosos acordes iniciais de “Assim Falou Zarathustra”, de Richard Strauss, com imagens de naves e astronautas flutuando no espaço...



Em 1973, Eumir Deodato (muito provavelmente inspirado no filme de Kubrick) resolve criar a sua própria intepretação de Zarathustra:



Foi o maior momento de sua carreira. Mas foi também a origem de um mito que ganhou força principalmente entre nós, brasileiros: o de que a versão de Zarathustra que está no filme de Kubrick é a de Eumir.


A PROPAGAÇÃO DE UM ERRO

Eumir DeodatoAno passado, li um artigo na G1 (portal de notícias da Globo.com) dando a entender que o arranjo feito por Eumir Deodato para a música Assim Falou Zarathustra teria sido usado no filme de Kubrick. Eu sabia que tal afirmação era totalmente descabida porque me lembrava de uma reportagem, exibida pelo Fantástico, sobre um "brasileiro que fazia bonito nos Estados Unidos" com uma versão de "Assim Falou Zarathustra" (música conhecida, então, como o tema de 2001), que, por coincidência, fazia parte da trilha sonora da novela "O Bem-Amado". Ora, o programa Fantástico não existia antes de 1973, mesmo ano em que a tal novela foi ao ar. Fui consultar a Wikipedia, pensando em rebater a afirmação do jornalista, mas me surpreendi com o que encontrei: era de lá mesmo que ele havia extraído a sua informação. Atordoado, fui ao site oficial de Deodato, e pude confirmar o que eu já sabia: a sua versão de Zarathustra havia sido lançada em 1973. Como poderia, então, estar num filme que havia sido rodado em 1968? Veja o que há no SITE OFICIAL DE EUMIR DEODATO: "...will probably forever be associated with one song - his innovative rendition of Richard Strauss' classical opus Also Sprach Zarathustra (or more commonly known as the theme to 2001: A Space Odyssey). That single compelling song, which first appeared on his 1973 debut album for CTI Prelude, sold at least five million copies and earned Deodato his first Grammy Award, ...".

O verbete em que a Wikipedia trata específicamente sobre o filme de Stanley Kubrick acaba contradizendo o outro que fala sobre Eumir Deodato:

The end music credits do not list a conductor and orchestra for "Also Sprach Zarathustra". Stanley Kubrick wanted the Herbert von Karajan / Vienna Philharmonic version on English Decca for the film's soundtrack, but Decca executives did not want their recording "cheapened" by association with the movie, and so gave permission on the condition that the conductor and orchestra were not named. After the movie's successful release, Decca tried to rectify its blunder by re-releasing the recording with an "As Heard in 2001" flag printed on the album cover. John Culshaw recounts the incident in "Putting the Record Straight" (1981)....n the meantime, MGM released the "official soundtrack" L.P. with Karl Böhm's Berlin Philharmonic "Also Sprach Zarathustra" discretely substituting for von Karajan's version. (…)

Mais adiante, neste mesmo artigo, há, no entanto, uma referência a Deodato que, se não for lida com a devida atenção, pode induzir muita gente ao mesmo equívoco:

Also sprach Zarathustra has been widely used in many other contexts since 2001 made it well known. This includes a disco version by Eumir Deodato which was used in the film Being There, and its use as the ring entrance music for now-retired pro wrestler Ric Flair. (…)

Em geral, os textos são claros, mas o simples fato de mencionarem, num mesmo parágrafo, os nomes de Eumir Deodato e Stanley Kubrick já basta para nos incutir a falsa idéia de que há uma estreita relação entre o trabalho dos dois, que vai além do simples fato de terem escolhido a mesma peça de música.

Esta reportagem publicada no G1 (portal de notícias da Globo.com), pode, na minha opinião, dar asas à imaginação de leitores mais afobados.

O mesmo ocorre com este artigo:
O destaque está na versão funkeada de “Also Sprach Zarathustra
(Assim falou Zarathustra), tema do compositor e maestro alemão Richard Strauss, imortalizado por Stanley Kubrick no filme ‘2001 – uma Odisséia no Espaço’. Por conta deste petardo, o disco atingiu a monstruosa marca de 5 milhões de cópias vendidas, impulsionando a carrreira de Deodato no exterior e o figurando com destaque no rol dos grandes nomes do jazz-fusion da época
(ARTIGO COMPLETO).

A Wikipedia, felizmente, já está corrigida, mas até hoje tem muita gente que faz confusão com este assunto.Veja algumas das bobagens que ainda se escreve por aí:

"Uma curiosidade sobre a trilha sonora do filme: Kubrick solicitou ao seu colaborador em Spartacus, Alex North, que compusesse a trilha sonora para a película. Depois de escutar o resultado, o diretor de “2001…” não ficou satisfeito e optou pela música clássica para dar vida às famosas cenas no espaço. North só soube que sua trilha tinha sido jogada no lixo no dia da estréia do filme, e ficou furioso. Sendo que quem fez os arranjos e a orquestração foi o brasileiro Eumir Deodato." (ARTIGO COMPLETO).

"As opiniões do compositor e um dos maiores arranjadores brasileiros de todos os tempos, Eumir Deodato, sobre o terreno hoje sacrossanto da bossa podem até machucar ouvidos mais sensíveis. Deodato tem costas-quentes para falar porque sua carreira internacional é um escudo: em 1967, sua versão de Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, virou tema do filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, lançado em 1968. Ganhou um Grammy pelo tema. Desde então, fez arranjos para mais de 500 discos e trabalhou com artistas como Kool and the Gang, Björk, Tricky, entre outros" (ARTIGO COMPLETO).

"(...)ele ficou famoso quando esse arranjo fez parte da abertura do filme 2001 Uma Odisseia no Espaço (se não estou engnado)" (comentário num fórum sobre Eumir Deodato)".

Para terminar este artigo, uma pequena homenagem ao dia de hoje:



18 julho 2009

Provérbio Chinês

Já dizia Confúcio (ou algum outro chinês):

"Temos UMA boca e DOIS ouvidos, mas jamais nos comportamos proporcionalmente".
















Eu diria que o verdadeiro musicista deve ser uma exceção a esta regra...

16 julho 2009

Ritmo de tre batutte

Timpani
ritmo de
"TRE BATUTTE"
A boa notícia de hoje não vem do blog do Stephen Kanitz, mas da minha própria máquina: a partir de hoje, ela tem 2GB. Pode não ser muito, ainda mais para quem pretende trabalhar com som e imagem, mas não deixa de ser uma boa notícia, porque significa que ao menos poderei continuar meus testes com o LMMS, com o MuseScore e com o Frinika. Mas sobre este assunto eu falo outro dia. Antes, deixe-me contar um “causo”.

OUSADIAS
Quando Stanley Kubrick terminou as filmagens de Laranja Mecânica (lembrando que eu já abordei este assunto num dos meus primeiros posts), havia decidido incluir o Scherzo da Nona Sinfonia de Beethoven na trilha sonora, usando-o como fundo em algumas de suas cenas mais fortes (como, por exemplo, a do quase-suicídio de Alex). A obra de Beethoven parecia encaixar-se como uma luva em seu projeto. Faltava somente escolher uma boa orquestra e um bom condutor para ela. Mas Kubrick, visionário como poucos, percebeu que poderia ir além, aceitando a colaboração inusitada de Wendy Carlos.

E Carlos não fez por menos. A sua interpretação “sintetizada” do Scherzo é incrível, e realça como nunca a dramaticidade do filme – algo que dificilmente se conseguiria com uma leitura convencional da partitura de Beethoven, ainda que realizada pela melhor orquestra que se possa imaginar.

Estariam, assim, perfeitamente justificadas todas as ousadias de Wendy em relação à partitura – exceto uma.

MAS O QUE É RITMO DE TRE BATUTTE?
O assunto pode parecer um pouco técnico demais para um blog, mas seria uma pena não poder tratar dele agora (afinal, ao que tudo indica, descobri que Wendy Carlos - em que pese toda a sua bagagem musical - teria cometido um erro de leitura que ficou perpetuado num dos filmes mais importantes da história do Cinema). A história é a seguinte:

No compasso 177 desse Scherzo, Beethoven acrescentou na partitura a indicação “ritmo de tre batutte”, ou seja, “ritmo de três compassos”. Daí em diante, a música é caracterizada por uma divisão em blocos de TRÊS compassos, em vez dos QUATRO que vinham vigorando desde o início. Por isso, os temas do “fugatto” que se inicia neste momento vão entrando, um após o outro, a cada TRÊS compassos. Até aí, tudo bem: Wendy Carlos estava fazendo um trabalho perfeito.

Alguns compassos depois, chega a vez dos tímpanos surgirem fazendo muito barulho. São intervenções vigorosas, bem beethovenianas. Depois de quatro intervenções - uma a cada TRÊS compassos, por causa do “ritmo de tre batutte" - espera-se pela quinta, mas ela demora a vir, aparecendo um compasso mais tarde que as demais. É que, neste exato momento, Beethoven decide fazer um retorno brusco ao esquema anterior, caracterizado pelos blocos de QUATRO compassos.

Ouça, logo abaixo, um MP3 que eu mesmo preparei, contendo somente o trechinho analisado acima (a partir de uma interpretação exemplar da Filarmônica de Berlim, sob a regência de Herbert von Karajan), e clique no gráfico correspondente, para vê-lo maior. Vale a pena ouvir e ver:

Karajan - Trecho do Scherzo da Nona Sinfonia de Beethoven
Gráfico relativo ao áudio acima

Note no gráfico acima que todas as cinco intervenções dos tímpanos (assinaladas pelos números) estão separadas por três compassos (representados pelos círculos cor-de-rosa com diâmetros iguais, de 24 pixels), exceto a quarta e a quinta intervenções, que estão separadas por QUATRO compassos.

Isso combina perfeitamente com o que se vê no gráfico “piano-roll” que eu mesmo produzi no LMMS (olha só o LMMS já começando a demonstrar a sua utilidade...):

Gráfico do tipo piano-roll obtido no LMMS
Eu poderia ter mostrado o mesmo trecho acima numa partitura, mas, neste caso (como em muitos outros), o “piano-roll” acaba sendo mais informativo.

Para complicar um pouco mais essa história, Beethoven estabeleceu que essa quinta intervenção dos tímpanos, além de demorar um compasso a mais para ocorrer, deve vir bem mais suave. Mesmo assim, por incrível que pareça, ela não passa despercebida. O motivo disso é justamente a violência com que ocorrem as quatro intervenções anteriores - é como se, por alguns instantes, nossa atenção se desviasse para essa súbita ausência, e assim acabamos percebendo a entrada dos tímpanos, ainda que bem mais fracos e aparentemente fora do tempo.

MISTÉRIO
Na interpretação de Wendy Carlos, porém, não há este atraso de um compasso. A quinta intervenção dos tímpanos ocorre como se ainda estivesse valendo a indicação “ritmo de tre batutte”, isto é, TRÊS compassos depois da quarta intervenção. A razão disso, para mim, é um mistério.

Logo abaixo, eu disponibilizo o MP3 e o gráfico correspondentes ao que acabo de dizer:

Wendy Carlos - Trecho do Scherzo da Nona Sinfonia de Beethoven
Gráfico relativo ao áudio acima
Note no gráfico acima que, dessa vez, todas as cinco intervenções dos tímpanos estão separadas por três compassos.

MAS O QUE TERÁ ACONTECIDO?
Eu acho que Wendy Carlos simplesmente se equivocou. Não acredito que ela tenha ignorado o retorno ao ritmo de quatro compassos de forma deliberada, mesmo porque não encontro um único motivo pelo qual ela quisesse tê-lo feito. As outras diferenças em relação à partitura, sim, são propositais, o que fica evidente quando ouvidas em seu contexto, isto é, nas cenas para as quais foram pensadas (a mais notável dessas diferenças está num trecho em que toda a orquestra toca em fortíssimo: Carlos resolve esticar esse trecho além do normal, provavelmente para que tivéssemos uma idéia da sensação de morte iminente que levou Alex a se jogar pela janela...).

Essa discrepância (provavelmente única em toda a discografia de Wendy Carlos) eu já a havia percebido faz algum tempo, mas a decisão de escrever algo sobre ela surgiu quando encontrei o texto abaixo (onde, inclusive, tomei conhecimento de coisas como o "hypermeter" e desse tal de “ritmo de tre batutte”):

It should be mentioned that all this tonal modulation occurs at a point where the manipulation of rhythm also blurs the structure. Here Beethoven acknowledges the concept of "hypermeter"- or implied meter built out of the melodic material itself and existing fairly free of the established rhythmic pattern (see the Scherzo of the Third Symphony for a more piquant example). The bassoon entrance at bar 177 begins with the marked expression "ritmo de tre batutte" or "rhythm of three bars." In other words, the fugue-like structure of the opening returns, but instead of each subsequent theme statement coming four bars apart (see example above) Beethoven rushes things, as it were, by making the entrances here separated by just three bars. The effect is one of unsettling compression. The tympani make their famous loud statements (last example) in this same compressed rhythm scheme, four times. The fifth tympani outburst is delayed by one measure and played softly- in other words, Beethoven returns suddenly to the four-bar scheme- the tympani sound as if they are retreating, diminished in power but still lurking. The "ritmo de tre battute" returns briefly a few bars later, but this is finally put to rest by the tympani themselves, leading to one of the more powerful (though brief) crescendos in Beethoven's music. Concurrent rhythmic and tonal tinkering to this degree had no prescedence in Western music, and sounds innovative to this day.

Para os que quiserem se aprofundar neste e em muitos outros detalhes a respeito da Nona Sinfonia de Beethoven, leia O TEXTO COMPLETO.

Obs: E se tiver um tempinho, assista, mais tarde, ao vídeo completo de onde eu extraí um dos áudios analisados acima:

15 julho 2009

MuseScore

MuseScore - Software de Notação Musical
MuseScore
Software Gratuito de Notação Musical
Embora estivesse achando o LMMS muito interessante, resolvi deixá-lo um pouco de lado para começar a testar (pelo menos um pouquinho) o MuseScore.
Obs: O produto que eu baixei está na Versão 0.9.4 Revisão 1518.



Meus Testes
Ao abrir este programa pela primeira vez, a tela apresenta-se como na figura abaixo, com uma partitura demo já carregada:


O visual é algo realístico, com um fundo cuja cor lembra a de um papel envelhecido (o que, para mim, é mais agradável que um fundo simplesmente branco). É possível alterar este visual, seja carregando um novo estilo, seja simplesmente modificando-o ou criando um novo.
Todas as funções de edição são acessíveis no menu. Este, a propósito, chama a atenção pela extrema simplicidade (não sei bem se isto pode ser considerado um elogio...). Um exemplo disso é a janela do mixer (abaixo):


Mas, para mexer em claves, mínimas e colcheias, o legal mesmo não é usar os comandos do menu, mas sim os do próprio teclado ASCII, o que pode ser feito de duas maneiras bem distintas, mas igualmente inteligentes, dependendo do modo escolhido: o Note Entry mode e o Edit mode.

O Note Entry mode
Com o Note Entry mode, pode-se escolher uma duração para a nota digitando-se um número de 1 (semifusa) até 9 (Longa).
A imagem abaixo, baseada no manual, exemplifica como outras teclas podem ser usadas para a inserção de notas neste modo.



O Edit mode
Por enquanto, só pude experimentar o Note Entry mode, mas já posso adiantar que achei a idéia do Edit Mode muito interessante. Quem está mais acostumado a escrever música usando papel e lápis, pode acabar achando este modo mais intuitivo, já que, em vez de números ou letras, terá que lidar somente com alguns poucos elementos básicos, que servirão para ele formar tudo o que normalmente se vê numa partitura (como hastes e colchetes, por exemplo, que poderão ser usados para se desenhar uma nota). Alguns desses elementos contem handles que podem ser movidos com uso do mouse ou de alguns comandos do teclado ASCII, como as setas e as combinações destas com Ctrl e Shift. Veja, abaixo, dois exemplos em que o Shift+Right é usado para “esticar” um elemento:



(veja também: Free Sheet Music Download - DOWNLOAD GRATUITO DE PARTITURAS, uma extensa coleção de links para downloads de partituras gratuitas na Internet)




14 julho 2009

LMMS (Linux Multimedia Studio)

LMMS - Linux Multimedia Studio
O LMMS é uma alternativa não-comercial a programas como o FL Studio®, que permite a produção de música de boa qualidade num computador caseiro, o que inclui a criação de melodias, batidas, a síntese e a mixagem de sons, etc.




PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

. gratuito
. multi-plataforma (Linux e Windows)
. editor de canções
. editor de beats e basslines
. editor no estilo Piano-Roll
. um mixer FX de 64 canais e um número ilimitado de efeitos, que permitem infinitas possibilidades de mixagem
. uma boa quantidade de instrumentos e plugins de efeitos incorporados
. automação de trilhas totalmente definida pelo usuário
. compatibilidade com SoundFont2, VST(i), LADSPA, GUS Patches e MIDI
. importação de arquivos MIDI e FLP (Fruityloops® Project)



MEUS TESTES

Estou gostando muito do LMMS: além da aparência profissional, é agradável de se ver e de se usar, é cheio de recursos, e - o mais importante - funciona. Quem conhece o Fruity Loops, vai encontrar um certo parentesco entre ambos. Pode-se ver, abaixo, um instantâneo que eu mesmo fiz durante meus testes, mostrando um projeto já carregado e dois dos plugins que ele utiliza:


Até agora, encontrei somente algumas pequenas falhas (que, na verdade, são “besteirinhas” que eles deverão solucionar rapidamente):

1 . O "toggle" de pelo menos dois dos botões não funcionam (voltando de um pause para o play, o ícone do pause permanece - tendo clicado no apagador, ao voltar para o lápis, o ícone do apagador permanece).

2 . Às vezes, depois de carregar um projeto, verifico que preciso eu mesmo posicionar o ponteiro no seu início.

Só achei um problema sério, mas que, mesmo assim, pode não ser culpa do programa, e sim da minha máquina. Foi quando eu importei alguns dos meus arquivos MID e tentei rodá-los com SoundFonts (SF2): notei que diversas notas falhavam durante a execução. Ainda estou investigando os motivos disso, mas já pude concluir que tanto faz se o arquivo MID é grande ou pequeno. Parece que o problema está mesmo na memória e na velocidade de processamento que os SoundFonts exigem. Tomara que seja só isso (afinal, o meu computador já está precisando de um upgrade).

Confesso que eu ficaria muito mais satisfeito se esse produto incluísse, também, um editor de partituras, mas o "piano-roll" que ele nos oferece até que é bem resolvido. Além do mais, eu concordo com a idéia, propagada por Stephen Malinowski (e concretizada através do seu extraordinário MIDI Player, o MAM - Music Animation Machine, já mencionado por mim neste blog, dias atrás), de que, quanto mais complexa for uma música, mais difícil é compreendê-la olhando-se simplesmente para a sua partitura - para ele, o "piano-roll" é muito mais informativo do que a notação tradicional.

Mas eu gostaria que, ao menos, fosse possível visualizar mais de uma trilha ao mesmo tempo, quer seja num único piano-roll (tanto o Cakewalk como o MAM misturam todas as notas numa única tela, diferenciando-as pela cor), ou com um piano-roll em cada janela.

Bom, de qualquer maneira, se um editor tradicional se tornar imprescindível para mim, o MuseScore já está na fila das coisas que eu pretendo testar.


DICAS DE SOUNDFONTS ORQUESTRAIS

Aqui vai uma sugestão caso você já use ou pretenda usar (ou, pelo menos, testar) o LMMS usando soundfonts de sons orquestrais:

Obs: Para vários dos arquivos abaixo, você precisará de um descompactador específico de SoundFonts, o sfArk.

27mg_Symphony_Hall_Bank - use este como default, pois contem todos os instrumentos de uma orquestra.

Como opção a alguns dos instrumentos deste banco de sons, eu recomendo os seguintes, que eu já testei:

Flauta:
314_Good_Flute - é uma boa flauta, realmente, mas...
Cambridge_Concert_Flute - ... talvez você prefira esta.
Oboe: Natural_Oboe
Recorder (flauta doce): Campbell’s Recorder
Bassoon (fagote): Natural_Basson
Violin Ensemble (conjunto de violinos): HS Strings
Violinos em Pizzicato: 142_Pizzstr
Cello: 1115_Cello_Deep
Vozes: 554_Flobakks_Choir_Aahs (736KB)
Vozes infantis: BoyChoir - achei bom, desde que não se usem notas nem muito graves nem muito agudas.
Obs: Resolvi preparar a relação acima pensando em dar acesso direto às soundfonts que eu já testei, mas você encontrará muito mais opções (incluindo diversos outros do tipo orquestral) navegando pelo site da HomeMusician.net Free Soundfonts.


SPLENDID PIANO

Esta é uma excelente opção ao piano que está no Soundfonts 27mg_Symphony, pois tem uma sonoridade extremamente bonita e natural. Apesar disso, ainda não sei se são problemas, realmente, ou eu é que não estou sabendo usar direito:
1 . Não há uma transição suave entre pianos e fortes - na verdade, há uma mudança abrupta de timbre, que se torna subitamente mais "brilhante" quando a nota ultrapassa determinada intensidade.
2 . Notas diferentes mas com mesma intensidade parecem, às vezes, serem umas mais fortes do que as outras, devido a diferenças nos timbres (umas mais brilhantes que as outras, o que parece ter a mesma causa do problema anterior).
De qualquer forma, você encontrará este soundfont em Splendid_72M.

(veja também: Free Sheet Music Download - DOWNLOAD GRATUITO DE PARTITURAS, uma extensa coleção de links para downloads de partituras gratuitas na Internet)





13 julho 2009

Mbube, ou "The Lion Sleeps Tonight"





"The Lion Sleeps Tonight", ou...

MBUBE ?

Ontem, enquanto conversava distraidamente com algumas pessoas, uma música tocando no rádio me chamou a atenção. A música era A Swinging Safari, do álbum That Happy Feeling, gravado em 1962 pelo maestro Bert Kaempfert:



Imediatamente, pensei: mas não é aquela música do Rei Leão?

Este é o famoso clipe de In the Jungle, do Rei Leão:



Era a mesma música, certamente, só que a gravação de Bert Kaempfert era bem mais antiga, o que me despertou uma certa curiosidade. Vejam o que descobri.

UM RESUMO DA HISTÓRIA
Desta vez, não estou falando de plágios, mas de uma música tão forte que ganhou vida própria – a ponto de ter deixado o seu verdadeiro e original criador a ver navios.

Em 1939 o músico sul-africano Solomon Linda (na foto ao lado) compôs Mbube (Leão, em zulu), e a gravou com o grupo vocal que havia fundado, o Evening Birds (vejam só que raridade):







Logo após esta gravação, Solomon vendeu seus direitos autorais a Eric Gallo (dono da Gallo Record Company) por apenas 10 shillings (cerca de US$ 2,00). As leis britânicas de então estabeleciam que esses direitos só deveriam retornar a ele somente 25 anos depois de sua morte, em 1962.

“Mbube” fez um enorme sucesso. Só na década de 1940, o single chegou à marca de 100 mil cópias vendidas. Mas a sua longa jornada só estava começando...

O musicologista americano Alan Lomax apaixonou-se pela música e resolveu repassá-la a seu amigo, Pete Seeger, do grupo The Weavers, especializado em interpretar músicas folclóricas. Estamos em 1950. Seeger resolveu, então, dar um novo título à Mbube: “Wimoweh” - uma transcrição imprecisa, para o inglês, da pronúncia de “uyembube” (que é o refrão original e significa “Você é um leão”).

Em 1962, os The Tokens, inspirados pela gravação dos The Weavers, resolveram dar a sua própria interpretação, usando uma letra bastante modificada por George Weiss (um dos maiores letristas da história da música popular americana), que a rebatizou de “The Lion Sleeps Tonight”. A letra ficou assim:

Obs: entre colchetes, estão as traduções dos termos em Zulu.


Lala kahle [Durma bem]
In the jungle, the mighty jungle
The lion sleeps tonight
In the jungle, the mighty jungle
The lion sleeps tonight

(Chorus)
Imbube

Ingonyama ifile [O leão está em paz]
Ingonyama ilele [O leão dorme]
Thula

Near the village, the peaceful village
The lion sleeps tonight
Near the village, the peaceful village
The lion sleeps tonight

(Chorus)

Ingonyama ilele (The lion sleeps)

Hush my darling, don't fear my darling
The lion sleeps tonight
Hush my darling, don't fear my darling
The lion sleeps tonight

He, ha helelemama
Ohi'mbube [leão]

(Chorus)

Ixesha lifikile [Chegou a hora]
Lala [Durma]
Lala kahle [Durma bem]

Near the village, the peaceful village
The lion sleeps tonight
Near the village, the peaceful village
The lion sleeps tonight

(Chorus)

My little darling
Don't fear my little darling
My little darling
Don't fear my little darling

Ingonyama ilele [O leão dorme]

Esta é a versão com que as pessoas estão mais familiarizadas hoje em dia, e que foi usada no filme “The Lion King” (O Rei Leão), da Disney. Com ela, os The Tokens haviam chegado ao topo da Billboard Hot 100 em 1961, mas não foi senão depois de “O Rei Leão” que, em 2004, os descendentes de Solomon Linda entraram com uma ação contra a The Walt Disney Company, reclamando, pelo uso desta música em seu filme, o pagamento de royalties que somavam à época (segundo a revista Rolling Stone) cerca de US$ 15 milhões.

MIDIs
Eu encontrei três versões da música The Lion Sleeps Tonight no formato MID (a terceira é a mais interessante, na minha opinião):

Versão 1

Versão 2

Versão 3


MAIS INFORMAÇÕES

O Canal de Florencom, do YouTube, é dedicado somente à extensa lista de covers de Mbube ao longo de décadas.

Na Wikipedia, há um artigo bastante completo sobre o assunto.

(veja também: Free Sheet Music Download - DOWNLOAD GRATUITO DE PARTITURAS, uma extensa coleção de links para downloads de partituras gratuitas na Internet)





12 julho 2009

Testando Sequenciadores MIDI

Testando
sequenciadores MIDI
(LMMS, Frinika e MuseScore)
ou "à procura de um novo sequenciador de músicas"


Na Wikipedia, descobri a seguinte lista de sequenciadores Free/Open Source:

• Ardour
• Frinika (cross platform)
• LMMS (cross platform)
• MusE
• MuseScore (cross platform)
• Musette
• Qtractor
• Rosegarden
• Seq24
• Hydrogen (cross platform, drum machine)

Destes, resolvi testar o Frinika, o LMMS e o MuseScore, que funcionam na plataforma Windows e parecem preencher os requisitos de um sequenciador tradicional.

A imagem no alto deste artigo foi extraída do LMMS, enquanto as abaixo são, respectivamente, do Frinika e do MuseScore (se quiserem acessar os sites destes produtos, basta clicar nas imagens):




Obs: Publicarei aqui, neste blog, minhas conclusões sobre esses produtos, à medida que os for testando.

(veja também: Free Sheet Music Download - DOWNLOAD GRATUITO DE PARTITURAS, uma extensa coleção de links para downloads de partituras gratuitas na Internet)

11 julho 2009

Music Animation Machine

M A M
MUSIC
ANIMATION
MACHINE
Já assistiu ao vídeo abaixo?





Ele é atribuído a um tal de Hattariyaro, e permaneceu vários dias na minha coluna de Vídeos (na parte direita desta página).

Quem viu deve ter achado interessantíssimas aquelas figurinhas que vão aparecendo no meio das músicas. Como entusiasta dos arquivos MID, resolvi fazer algo parecido. O resultado é SPIDERM.MID, uma música que mostra o nome deste blog (veja imagem abaixo).


Para visualizar a imagem acima, no entanto, você precisará também de um MIDI PLAYER especial: o MAM (Music Animation Machine). Ele serve para tocar MIDs enquanto exibe uma representação gráfica de suas notas.

Se quiser, você pode baixar somente o MANUAL.



DICAS

. Depois de baixado, o MAM não precisa ser instalado: basta descompactá-lo.


. Ao executar o programa, selecione a música que eu modifiquei (SPIDERM.MID) em FILE / OPEN, e depois selecione VIEW / DISPLAY TYPE / PIANO ROLL (MAM). A seguir, tecle na barra de espaço e, pronto, a música começará a tocar.


. Mas, atenção: eu só inclui esse único textinho que aparece logo no início – não perca seu tempo ouvindo toda a música achando que vão aparecer mais textos ou figuras.


. No MAM, o usuário pode optar entre outros tipos de representação gráfica. Hattariyaro escolheu, por exemplo, a “tonality compass + bars”.



Você gostaria de fazer o mesmo?

Primeiro, selecione uma música em formato MID e a carregue num sequenciador do tipo Cakewalk (como o Anvil Studio, que é gratuito).

Para melhor entendimento, estou mostrando, abaixo, a tela de um sequenciador MID já carregado com uma música qualquer. Nesta tela, há duas representações diferentes de um mesmo trecho dessa música: no quadro superior, o trecho está representado em um diagrama “piano roll”; no quadro inferior, ele está representado em notação musical (partitura):



O que eu fiz (e o que Hattaniyaro deve ter feito também) foi incluir notas no diagrama “piano roll” de modo que elas tivessem, não tanto um significado musical, mas um significado visual:



Não se preocupe com a partitura, pelo menos por enquanto. O único lugar onde se deve mexer é no diagrama “piano roll”.

Acredito que Hattariyaro tenha incluído todas as figuras da mesma forma que eu, ou seja, manualmente, uma nota de cada vez. Isso não é difícil, mas é trabalhoso. Além disso, é preciso que as notas combinem com a própria música que está sendo tocada (sem truques, do tipo notas mudas – que aparecem na figura, mas não têm função nenhuma na música).

Obs: Neste exato momento, passou pela minha cabeça uma idéia meio diferente: fazer (e disponibilizar gratuitamente) um programinha para facilitar este trabalho. Assim, qualquer pessoa, mesmo sem saber quase nada de Música, poderia inserir textos e imagens nos arquivos MID de sua preferência, escolhendo, inclusive, os pontos em que eles deveriam aparecer.

Se eu resolver, realmente, levar essa idéia adiante, darei notícias diárias, aqui, sobre o andamento deste projeto. Aceito sugestões.


Um pouco mais sobre o MAM

O idealizador do MAM chama-se Stephen Malinowski:



A idéia de associar sons com imagens não é nova. Disney, por exemplo, teve a idéia de sincronizar desenhos animados com peças clássicas em Fantasia. O efeito dessa junção é sinérgica: não só as cenas ganham em emoção, mas a própria música se torna mais inteligível.

Mas a idéia inicial de Malinowski era criar uma alternativa melhor que a notação musical tradicional, que, em sua opinião, era pouco explicativa. Ele mesmo tem preparado alguns vídeos em que demonstra o seu programa. Veja este:



A notação tradicional é eficaz quando se trata de nos informar o que faz cada instrumento durante a execução de uma sinfonia, mas nada nos diz sobre os contrapontos e harmonias resultantes, que ficam dispersas na partitura, como gotas de tinta num oceano. O MAM tenta unir as peças desse quebra-cabeças, desvendando, para nós, a influência que cada nota tem sobre as demais. Mas a sua principal virtude mesmo está em ser a melhor ferramenta que eu conheço para descortinar os mistérios das grandes obras. É realmente fascinante poder "assistir" à complexidade de uma sinfonia que nos habituamos a ouvir por tantos anos, ou o contrário, isto é, ouvir os “sons” que se revelam por trás das imagens que o programa nos exibe.

Tenho visto pessoas acharem que uma sinfonia (tal como a ouvem, executada por uma orquestra) é uma obra coletiva. Para elas, é como se Beethoven, por exemplo, fosse autor somente dos temas de suas sinfonias, cabendo aos músicos e ao maestro da orquestra não somente tocá-las, mas também preencher o resto, usando técnicas e fórmulas que eu nem me arrisco a conceber. Na minha opinião, o MAM ajuda estas pessoas a compreender melhor a realidade dos fatos. É bem possível que elas se espantem ao saber que a Nona Sinfonia não é uma obra coletiva, que cada nota que elas ouvem foi escrita por Beethoven mesmo, e por mais ninguém. Por mais que os músicos, e o próprio maestro, sejam profundos conhecedores de música, eles não estão fazendo nada além de TOCAR o que Beethoven escreveu (emprestando, é lógico, a técnica e a interpretação de que são capazes).

O MAM deixa tudo isto bem evidente na medida em que nos faz enxergar, por meio de um verdadeiro show visual, a estrutura interna das grandes composições. É como se a sincronia entre o que vemos e o que ouvimos estabelecesse uma ponte entre a Arte dos Sons e as Artes Plásticas. Passamos a aceitar, então, também para a Música, um conceito que, para nós, é perfeitamente natural no mundo das artes visuais: o de que uma obra de arte, por mais complexa que seja, pode ter somente um autor (que é, também, no caso da Pintura e da Escultura, o seu único executor).

Tudo o que disse acima pode ser óbvio para mim e para você, mas, acredite, há muita gente que vai a concertos sem a menor noção do verdadeiro motivo pelo qual Bach e Beethoven são considerados gênios da Humanidade. É aí que eu vejo a melhor contribuição que o MAM pode prestar à Música: fazer com que se entenda melhor não somente a grandiosidade de uma obra-prima, mas também o verdadeiro significado da palavra "compositor".


Um vídeo como este abaixo é perfeito para o ouvinte que quer ser introduzido ao Mundo da Polifonia:




O vídeo a seguir serve para convencer o ouvinte sobre a relação direta que há entre a complexidade do que ele vê com a do que ele ouve:




OUTROS VIDEOS RELACIONADOS AO MAM

Hattariyaro disponibiliza vários vídeos legais no CANAL DE HATTARIYARO.


RETRO GAME MEDLEY

No vídeo abaixo, Hattariyaro optou por uma sonoridade típica dos videogames antigos.




MIDI ANIMATION “CHRONO TRIGGER”

O vídeo a seguir dá uma idéia melhor (para os que não têm muito conhecimento sobre as possibilidades do MIDI) do tipo de sonoridade que se pode obter quando se tem os recursos apropriados (tudo depende da máquina):




CONCLUSÃO

Sou um entusiasta do padrão MIDI. Ele, que surgiu para facilitar a interligação de instrumentos musicais eletrônicos, sem querer nos fornece um caminho para a democratização da Música. Graças a ele, qualquer um, hoje em dia, pode fazer música de excelente qualidade. Qualquer um pode produzir, em casa, uma música orquestral, por exemplo, sem precisar do contato com uma orquestra de verdade. Futuramente, falarei sobre o que há de melhor em software e hardware para este padrão.

Obs: não deixe de visitar o SITE DO MUSIC ANIMATION MACHINE.



(veja também: Free Sheet Music Download - DOWNLOAD GRATUITO DE PARTITURAS, uma extensa coleção de links para downloads de partituras gratuitas na Internet)


10 julho 2009

Arquivos MIDI



Download


de músicas MIDI


(Pato Preto, de Tom Jobim, e uma nova versão de Prece, de Vadico e Marino Pinto)




A minha Página de Downloads acaba de receber três novas aquisições: são duas músicas em formato MIDI e uma partitura em formato PDF.

Prece (Nova versão)

As diferenças entre esta versão e a que eu havia disponibilizado dias atrás são poucas e sutis. Basicamente, rearmonizei os compassos 13, 14, 37 e 38, para que ficassem mais parecidos com uma gravação exemplar de Altemar Dutra.

Pato Preto

Esta é uma daquelas músicas de Tom Jobim que muita gente ouve com prazer e nem sabe que é dele. Desta vez, ao contrário do que fiz com Nuvens Douradas, limitei-me a transcrever o que está na partitura (que também tem a letra desta música). Por isto, você verá somente as partes da voz e do piano.

Obs: Este arquivo MIDI, só com o que tem, já está muito interessante, mas eu deixo para algum de vocês (ou para mim mesmo, num futuro não muito distante) a tarefa de torná-lo artisticamente mais bem acabado. Fique à vontade para acrescentar andamentos, dinâmicas, percussão, etc.

OS ARQUIVOS

Download da música Pato Preto:
Tom Jobim - Pato Preto.mid

Download da partitura de Pato Preto:
Tom Jobim - Pato Preto.pdf

Download da música Prece:
Vadico e Marino Pinto - Prece (2).mid

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