21 maio 2011
De Mozart a... Neil Sedaka?
Um curioso artigo da npr music... mas não há necessidade de traduzí-lo. Basta um resumo. Em poucas palavras, o autor nos fala de sua surpresa ao descobrir que Neil Sedaka, um artista popular conhecido por músicas como "Breaking Up Is Hard to Do", "Oh, Carol" e "Calendar Girl", teve uma formação musical de primeira: não somente estudou na prestigiadíssima Julliard School, como foi aluno de Rosina Lhévinne – mestra de grandes nomes da música erudita como John Williams, van Cliburn e James Levine. De fato, aos 16 anos, Sedaka chegou a vencer um concurso para jovens pianistas, de cujo júri fazia parte Artur Rubinstein. Mas o mais interessante mesmo é o fato de que, retrocedendo em sua “genealogia musical”, Sedaka estaria separado por apenas cinco “gerações” de ninguém menos que Mozart. Confira isso no gráfico abaixo, preparado pelo próprio autor do artigo (as setas indicam quem foi professor de quem):
No mesmo artigo, ele aproveita para mostrar quem foi Rosina Lhévinne, exibindo um vídeo sobre sua atividade de educadora – incluindo depoimentos de alguns de seus alunos mais famosos, como James Levine e John Williams. Eis o vídeo:
O autor termina o artigo com uma pergunta: alguém aí conhece outra relação similar entre artistas pop da atualidade e grandes compositores clássicos do passado? Quem souber de alguma, pode mandar para os comentários deste blog.
(fonte: npr music)
20 maio 2011
Audio Flowers
Tive a sorte de crescer numa casa onde se ouvia música o dia inteiro. O rádio era ligado de manhã, e desligado somente à noite, e mesmo assim por causa da televisão, onde se ouvia mais música ainda - nas novelas, nos comerciais, etc. Não havia escapatória. Onde quer que eu me encontrasse, havia música.
Algumas dessas músicas me perseguiram até a idade adulta. Ressuscitavam, muitas vezes, num momento de distração, e até mesmo em sonhos (o problema é que elas acabavam não me saindo mais da cabeça pelo resto dia).
Alguns anos atrás, cismei de procurá-las na Internet. Queria ressuscitá-las, materializá-las, exorcizá-las, sei lá. Graças ao surgimento da Google, acabei encontrando quase tudo que queria. Eu disse "quase" porque faltava encontrar uma. Sem saber nada de objetivo a seu respeito – como título, intérprete ou autor - eu já estava me conformando com a possibilidade de jamais achá-la. Nem a letra eu sabia, porque, por ser em inglês e ter sido lançada bem antes de eu aprender minhas primeiras palavras nesse idioma, não consegui memorizar um único verso. Restou-me apenas a lembrança de sua melodia – mas o Google, até onde eu sei, ainda não indexa as músicas pelas suas melodias, harmonias ou ritmos.
Acabei descobrindo a tal música: chama-se “Don’t Sleep in the Subway”, com Petula Clark. Não é preciso dizer o quanto “ralei” para encontrá-la (um dia eu conto essa história com mais detalhes). Foi como procurar uma agulha num palheiro, já que o repertório musical à nossa disposição é imenso: são milhões de músicas, de todas as eras, estilos, nacionalidades, etc. Como achar, então, uma única música entre tantas, quando não sabemos o seu título, o seu autor e o seu intérprete?
Hoje em dia, se quisermos encontrar algum texto na Internet, basta que digitemos uma ou mais palavras-chave. Em geral, isso funciona porque textos são feitos de palavras, e palavras podem ser facilmente classificadas – em ordem alfabética, por exemplo. A busca de músicas através de seus elementos puramente musicais (e não através de seus rótulos) é, no entanto, um problema bem mais desafiador.
Pois não é que um grupo de pesquisadores resolveu enfrentar esse desafio? O objetivo deles, ao que me parece, é o desenvolvimento de um mecanismo de busca de músicas na Internet – ou seja, um Google para músicas! Eles ainda estão longe de conseguir isso, mas o Audio Flowers é um passo nessa direção, pois gera a “impressão digital” de qualquer música, baseando-se apenas em seu conteúdo rítmico, tímbrico e harmônico, o que permite a sua identificação de uma forma mais objetiva (a imagem ao lado é um exemplo dessas "impressões digitais").
Cheio de curiosidade, entrei na PÁGINA DELES, ouvi os exemplos sonoros, e resolvi clicar no botão “Help Science comparing tracks” – é divertido, e serve até como teste de percepção musical.
Unchained Melody – A Noteworthy Contest
O site da Worth1000 é um verdadeiro ponto de encontro para milhares de artistas do mundo inteiro que, seja por pura diversão, seja pela busca de reconhecimento público para os seus talentos, competem saudavelmente entre si nas áreas da manipulação fotográfica, ilustração, fotografia, literatura, multimedia, entre outros. Vale a pena apreciar as imagens que concorreram ao primeiro lugar na “Unchained Melody – A Noteworthy Contest”, sobre as “Melhores Ilustrações da Worth1000 para 2011”. Foram inscritos 41 trabalhos, todos relacionados à Música. Confira na Página da Worth1000.
19 maio 2011
Lang Lang: do tormento ao triunfo
Antes de ler o resto deste post, talvez fosse bom assistir aos vídeos abaixo. Eles dão uma mostra do talento de Lang Lang, jovem pianista chinês que já está sendo apontado como a maior novidade surgida na música clássica nas últimas décadas (será exagero?). Depois dos vídeos (não deixe de ver o terceiro, em que ele toca um estudo de Chopin segurando uma laranja com a mão direita), há a minha tradução da entrevista que ele concedeu a Ivan Hewett, do The Telegraph.
O pianista chinês Lang Lang é a maior sensação das últimas décadas na música clássica. Às vésperas de se estabelecer em Londres, ele conversa com Ivan Hewett.
É mais um dia cheio na agenda lotadíssima de Lang Lang. Vestindo um terno Armani prateado, eis que ele surge no lobby do hotel em que se hospeda em Paris, recém-saído de uma reunião para tratar de sua fundação global para o incentivo à prática de música entre crianças (essa tem sido a sua obsessão, refletida inclusive nos encontros que pretende manter em sua futura estadia em Londres com grupos de jovens pianistas). Ele pede um chá, joga-se numa cadeira, e lembra, rindo, que nosso encontro estava se dando num “primeiro de abril”. Existe uma tradição similar na China? – perguntei.
“Não, não existe. E a primeira vez que ouvi falar disso foi quando cheguei à América. Mas eu tinha apenas 14 anos quando me mudei para lá. Metade da minha vida, portanto, eu vivi na América. É natural que eu já tenha assimilado algumas de suas tradições”.
O longo processo de adaptação aos hábitos ocidentais começou em 1997, quando Lang Lang ganhou uma bolsa de estudos na Curtis Institute, na Filadélfia. Essa foi sua primeira viagem para longe de casa? “Não, eu já havia estado na Alemanha um ano antes, para uma competição entre pianistas. Lembro-me de ter andado pelas ruas, visto aqueles prédios enormes e antigos, e de ter me impressionado com a solidez deles. Nós também temos prédios muito antigos na China, mas são todos feitos de madeira, de modo que, para mim, aquilo era uma grande novidade”.
Você já conhecia algo sobre a Europa nessa ocasião? Seus olhos brilharam. “Claro! Eu era totalmente maluco por futebol. Por causa disso, sabia os nomes de várias cidades britânicas, como Manchester e Liverpool, e italianas, como Perugia. Eu costumava assistir aos jogos pela tv a cabo, desde que a implantaram no início dos anos 1990”.
Que aventura não deve ter sido aquela viagem para um garoto que vinha de uma cidade quente, poeirenta e provinciana da China, onde acompanhava o futebol pela tv, tocando piano apenas “para se divertir”, como ele mesmo diz. E então veio a sua mudança para Pequim em busca de bons professores particulares de piano, na companhia de um pai ao mesmo tempo amoroso e tirânico - e convicto de que seu filho poderia se tornar o melhor pianista da China.
Sua primeira professora costumava humilhá-lo. “Ela me deixou arrasado”, disse Lang Lang com simplicidade, “disse-me que eu não tinha talento”. Existiam também discussões violentíssimas com seu pai, que o acusava de preguiçoso. A pressão era tanta que o garoto chegava ao ponto de esmurrar as paredes.
Mas um dia ele encontrou um professor que lhe devolveu a esperança. Depois da admissão no Central Conservatoire, viriam mais alguns anos de trabalho árduo. E então, ao vencer um concurso para jovens pianistas no Japão, ganhou uma bolsa de estudos na Curtis Institute.
Mas a verdadeira reviravolta em sua vida aconteceu num belo dia de 2000, quando teve que substituir às pressas um pianista que iria tocar o Concerto de Tchaikovsky em Chicago. Aquele foi o momento da revelação. Nos dez anos que se seguiram, Lang Lang tornou-se o maior fenômeno já surgido na música clássica em décadas. Tocou nos Jogos Olímpicos de Pequim para uma audiência de cinco bilhões de pessoas, seu rosto foi estampado em tablóides e revistas especializadas fazendo propaganda de marcas famosas como Armani e Audi, além de ter tocado em estádios ao lado de Herbie Hancock.
Quanto ao mundo da música clássica, esta se prostrou a seus pés. Lang Lang tem tocado com todas as grandes orquestras e em todas as mais consagradas salas de concerto.
Tanto tormento e tanto triunfo concentrados em tão poucos anos de vida deveriam fazê-lo transparecer algum tipo de cicatriz emocional. Mas não: assim como no momento em que nos fala de futebol, Lang Lang também vibra como um garoto irrequieto ao falar de Michael Jackson. Sua atração pelo showbiz nos remete ao início do século 19, quando não havia ainda uma linha divisória entre o simples entretenimento e a música de alto nível.
“É claro que a música clássica exige o mais alto grau de seriedade, mas por que não podemos também nos divertir com ela?”, disse. “A música clássica está mais próxima do meu coração, mas eu também adoro a música pop, e, para mim, artistas populares realmente grandes como Elvis e Michael Jackson alcançaram o mais alto nível artístico. Tento trazer esse conceito para dentro da música clássica quando me dirijo a uma platéia mais jovem, mesmo porque tenho a idade deles e, por isso, conseguimos ver o mundo de uma maneira parecida.”
Não por acaso, Lang Lang tem uma predileção por Franz Liszt, o maior showman entre todos os grandes nomes da música do século 19. Mas será que, para ele, Liszt foi um compositor sério? “Ele tinha um lado extravagante, mas também um lado sério, e eu gosto dessa combinação. Sinto-me próximo de Liszt justamente por ele não ter sido um “deus” como Mozart, que se aproximava da perfeição em tudo que fazia. Além disso, Liszt foi um ser humano excepcional. Ajudou muita gente, como Chopin e Wagner”.
Por outro lado, Lang Lang admite que música séria e sem extravagâncias também possa estar associada a valores especiais e apresentar seus próprios desafios. “O problema é que, com dificuldades puramente técnicas, você percebe quando as superou,” diz. “Com dificuldades musicais, não. Às vezes você vence uma batalha durante o seu estudo em casa, mas no palco a guerra continua”.
Ele também chegou à conclusão de que, além de talento e muito trabalho, existe um terceiro fator, que, por sua natureza, deve ser levado em consideração. “Eu sempre dou o melhor de mim, mas isso não significa que todo concerto será a minha melhor performance, mesmo porque há peças que exigem anos para serem perfeitamente assimiladas”.
Tais como? “O Primeiro Concerto de Brahms. Só depois da oitava performance eu senti que havia chegado perto do ideal. Ou a Sonata Hammerklavier de Beethoven, que ainda não toquei em público porque preciso adquirir maior confiança. O movimento lento é muito difícil porque há uma longa sequência em que se deve usar o pedal, mas não muito, para não soar tão romântico como em Chopin, por exemplo. Do contrário, a tensão desaparece”.
Vivendo há tanto tempo na América, será que ele já se sente ocidentalizado? “Bem, eu não estou bem certo disso. É verdade que me sinto em casa quando estou na Filadélfia, mas há coisas na cultura chinesa que me fazem falta. É impressionante como tudo aqui funciona na base do crédito. Penso que a educação nos níveis superiores seja boa, mas acho que nos níveis elementares deveria existir menos diversão e mais disciplina e respeito”.
Essa conversa já está tomando um rumo meio “confucionista”. E o que ele pensa a respeito de Amy Chua, a “mãe tigresa” que causou tanta controvérsia nos EUA ao lançar um livro que fala da disciplina draconiana chinesa? “Bem, aquilo foi um exagero. E todo exagero é ruim”.
Mas aqui ele faz uma pausa para, em seguida, sair-se com um arremate surpreendente. “Mas, na música, não se pode ficar no meio-termo. Se a música diz “presto”, você não pode fazer “moderato”. Se você fica no meio-termo, musicalmente falando, você vira uma espécie de burocrata”, disse, em tom subitamente mais inflamado.
Equilíbrio na vida, intensidade extrema na arte – este parece ser o lema de Lang Lang. Criadores visionários e audazes são certamente os seus preferidos.
“Neste exato momento, estou lendo um bocado de coisas sobre Picasso, que foi um gigante. Necessito de gigantes como Beethoven e Picasso me mostrando o caminho a seguir. Na música clássica, temos alguns compositores interessantes, que empregam conceitos inteligentes em suas peças, tais como matemática, sorte ou coisa assim.
“Dos compositores contemporâneos, entretanto, não existe ainda nenhum que fale à sociedade como um todo. Espero que tal compositor surja algum dia, no futuro”.
(fonte: The Telegraph)
A Orquestra Sinfônica
Recebi, outro dia, um email contendo um link para uma página muito bacaninha sobre a orquestra sinfônica. Trata-se de algo bem simples, mas efetivo. Passando o mouse sobre cada um dos instrumentos, mostra-se não somente uma breve explicação sobre o mesmo como também uma amostra de seu som. Acho que não custa nada dar uma olhadinha (clique na imagem para acessar o aplicativo).
18 maio 2011
Três performances fantásticas
As performances dos vídeos abaixo são de três artistas fenomenais:
Hahn-Bin (quem é Hahn-Bin?):
Nigel Kennedy (quem é Nigel Kennedy?):
Neymar (dispensa apresentações):
Só uma pergunta: esse cabelo “à Neymar” está virando moda entre os violinistas?
Jogos Olímpicos de Londres 2012: 10 coisas que você não sabia sobre os hinos nacionais
Costumo ler muitos artigos sobre música na Internet. Deparei-me com este, que achei interessante, e resolvi traduzir:
Você sabia que, no hino nacional do Congo, há a seguinte pergunta: “E se tivermos que morrer / Isso realmente importa?”. Veja aqui mais curiosidades a respeito de hinos nacionais:
1 - Deus Salve a Rainha é atribuído a Henry Carey, um compositor popular da primeira metade do século 18, embora alguns sugiram que ela seja de Handel, Purcell ou mesmo Lully, que nem inglês era – era francês. A melodia é a mesma do hino de Liechtenstein.
2 – Pouquíssimos hinos foram escritos por compositores célebres. Gounod escreveu o do Vaticano, Rabindranath Tagore escreveu tanto o da India como o de Bangladesh, e Haydn escreveu o da Alemanha.
3 - O hino alemão, com música extraída do Quarteto para Cordas em Dó maior de Haydn, foi proibido a partir de 1945 por causa da frase “Alemanha acima de tudo”, que de fato pregava inocentemente uma unidade nacional, contrariando frontalmente a legislação vigente na época. Foi novamente adotado como hino após a unificação das duas Alemanhas, mas apenas a terceira estrofe, menos exaltada que as outras, continua em uso.
4 - A Grécia possui o hino nacional mais longo do mundo. São 158 estrofes, escritas pelo poeta Dionysios Solomos (mas há uma versão resumida que consegue ser mais curta que a do Uruguai, cuja duração ultrapassa os cinco minutos).
5 - A Colõmbia, o Senegal, a Bélgica e o Equador possuem hinos escritos por ex-primeiros-ministros ou ex-presidentes.
6 – De todos os hinos, o do Japão é o que tem a letra mais antiga, escrita por um autor anônimo que viveu no século 9.
7 - Vários dos hinos de países do Oriente Médio são fanfarras sem letras – o do Catar parece ser o mais curto, durando (com extrema boa vontade) uns 32 segundos – obs: recentemente, ele foi expandido.
8 - Há a seguinte pergunta na letra do hino nacional do Congo: “E se tivermos que morrer / Isso realmente importa?”. O primeiro verso do hino da Ucrânia diz: “A Ucrânia ainda não está morta”.
9 - O compositor do hino nacional da Costa Rica, Manuel Maria Gutierrez, foi preso em 1853, e só saiu da prisão depois que compôs uma melodia considerada mais adequada para o hino.
10 - A Espanha é um dos poucos países com hinos sem letra. Um concurso para preencher essa lacuna chegou a ser aberto em 2007, mas foi cancelado devido à pouca receptividade popular.
17 maio 2011
Cancelada a demissão de Júlio Medaglia
Alvíssaras! Acabei de saber que o maestro Júlio Medaglia foi readmitido na Fundação Padre Anchieta. Ficou acertado entre ele e João Sayad, presidente da Fundação, que ambos desenvolverão um novo projeto para a Rádio e TV Cultura (relembre o episódio da demissão).
(fonte: Estadão)
16 maio 2011
Segundo Minczuk, “mentiras sobre a OSB não resistirão ao tempo”
Quero comentar uma entrevista dada à BBC Brasil pelo diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto Minczuk, a respeito da crise deflagrada com a demissão de 36 músicos da OSB no final de abril. A entrevista está neste artigo do Estadão.
Acho que deu para todo mundo perceber o que está acontecendo: Roberto Minczuk fala em “inverdades”, “distorções” e “mentiras”, sem, no entanto, dizer quais são elas. Não me parece uma atitude típica de alguém que esteja indignado. Parece mais a de alguém tentando ganhar tempo. É o que depreendo do próprio título da reportagem, quando menciona mentiras que “não resistirão ao tempo”. Que mentiras são essas que só o tempo pode desmascarar?
Desde o início achei essa história um pouco estranha. Continuo achando. Fiquei com a impressão, depois de ter lido a matéria da BBC, que Minczuk não tem uma justificativa de todo plausível para o que fez. Se tem, perdeu a oportunidade de explicitá-la. Não me refiro às demissões, mas ao que as motivou: as avaliações individuais. Eu, por exemplo, sempre achei que há apenas dois momentos para se avaliar um músico de orquestra: (1) antes de sua admissão e (2) nos ensaios. No primeiro caso, não há outro jeito: o candidato deve ser avaliado individualmente. Depois de aceito pelo grupo, não vejo razões para que se continue a testá-lo em provas do tipo "tudo ou nada". Poucos reagiriam bem a uma pressão assim. Que músico, ou artista em geral, conseguiria render normalmente com a faca no pescoço? Não conheço a metodologia de trabalho de Minczuk, mas fico cá me perguntando: será que um regente de nível internacional como ele não conseguiria detectar eventuais deficiências individuais já durante os ensaios? Acho que sim. Agora, se as deficiências com as quais ele se preocupa são sutis a ponto de só serem detectáveis em ambiente e circunstância específicos, então não são deficiências. Trata-se, na verdade, de criar uma nova orquestra a partir dela mesma. E eu só vejo duas maneiras de se fazer tal reestruturação: (1) com método e paciência, ou (2) do dia para a noite. Optou-se pela segunda maneira. Por que?
A entrevista de Minczuk era o que faltava para eu ter certeza de que essa história de avaliação de desempenho é um despropósito. Já desconfiava disso desde que tomei conhecimento das reações inflamadas que ela desencadeou mundo afora. Até nosso maior pianista, Nelson Freire, indignou-se com o motivo das demissões, cancelando todos os compromissos com a OSB em 2011. João Carlos Martins, mais comedido, também se manifestou em artigo sobre o tema, procurando incentivar a busca de uma solução negociada. Mas também deixou bem claro que não aplicaria tal metodologia nas orquestras que dirige.
Paul Mauriat – La Bikina
A belíssima música do vídeo abaixo foi composta por um mexicano. Rubén Fuentes, violinista e compositor, tinha formação clássica, mas ficou conhecido mesmo foi por suas contribuições para o gênero típico de seu país: a música de mariachi. La Bikina, lançada em 1964, é uma dessas contribuições, e foi provavelmente o seu maior sucesso. A propósito, fui olhar na Wikipedia, e descobri que La Bikina é o nome dado à personagem principal de uma lenda.
Mas o que eu queria mesmo não era falar de Fuentes, nem de suas composições, mas sim de um arranjo. Para ser franco, La Bikina não passa de mero pretexto para eu escrever sobre um maestro e arranjador francês chamado Paul Mauriat. Confesso que é de sua autoria a única versão que eu conheço de La Bikina. Ou melhor: era, porque hoje em dia não há mais versão de coisa alguma nesse mundo que já não tenha vindo à tona nas páginas do YouTube. De qualquer forma, fiquemos com essa gravação de Mauriat, que é, afinal, a que eu conheço desde a minha infância, e é, também, um dos motivos pelos quais eu comecei a querer ser músico. Ela aparece na quinta faixa do seu álbum "Paul Mauriat - Volume 12", de 1972.
Mas o que eu queria mesmo não era falar de Fuentes, nem de suas composições, mas sim de um arranjo. Para ser franco, La Bikina não passa de mero pretexto para eu escrever sobre um maestro e arranjador francês chamado Paul Mauriat. Confesso que é de sua autoria a única versão que eu conheço de La Bikina. Ou melhor: era, porque hoje em dia não há mais versão de coisa alguma nesse mundo que já não tenha vindo à tona nas páginas do YouTube. De qualquer forma, fiquemos com essa gravação de Mauriat, que é, afinal, a que eu conheço desde a minha infância, e é, também, um dos motivos pelos quais eu comecei a querer ser músico. Ela aparece na quinta faixa do seu álbum "Paul Mauriat - Volume 12", de 1972.
Crise na OSB
Outro dia, saiu a seguinte notícia no ESTADÃO: MÚSICOS DEMITIDOS SE APRESENTAM E EMOCIONAM. Tratava-se do capítulo mais dramático de uma novela que já vinha se desenrolando há meses, mais conhecida como a “crise da OSB”. Fiquei, é claro, bastante triste com o seu recente desfecho. Triste mas não surpreso. O desfecho era previsível, embora (confesso) me restasse um fio de esperança. Nesse sentido, endosso as palavras de João Carlos Martins, em seu brilhante artigo A Corda da Esperança, e lamento que seu apelo à reflexão não tenha surtido o efeito desejado. De fato, no exato momento em que escrevo estas linhas, as posições de ambos os lados me parecem irreversíveis.
Não tenho ainda informações suficientes para fazer um juízo de valor, mas posso dizer que conheço bem essa história de avaliação de desempenho. Acho-a necessária, mas também perigosa, pois é o tipo da coisa que, se mal executada, resulta mais em prejuízo do que em benefício para um grupo.
Sinto-me bastante afetado por tudo isso, já que, para o bem da minha formação musical, tive o privilégio de assistir a dezenas de concertos da Sinfônica Brasileira no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Não é o fim da OSB, é claro. Na verdade, pode ser até um “recomeço” – e o futuro dirá se Roberto Minczuk está certo ou não.
Repercussão no exterior
Não quero, pelo menos por enquanto, tecer maiores considerações a respeito, mas não resisto à tentação de assinalar a repercussão (um tanto negativa, por parte principalmente dos músicos) que essa crise vem tendo no exterior. Cito como exemplo a série de artigos que Norman Lebrecht, articulista do Arts Journal, já publicou sobre essa celeuma.
Obs: Para melhor compreender tudo isso, é imprescindível que se leia também o Blog da OSB.
Não tenho ainda informações suficientes para fazer um juízo de valor, mas posso dizer que conheço bem essa história de avaliação de desempenho. Acho-a necessária, mas também perigosa, pois é o tipo da coisa que, se mal executada, resulta mais em prejuízo do que em benefício para um grupo.
Sinto-me bastante afetado por tudo isso, já que, para o bem da minha formação musical, tive o privilégio de assistir a dezenas de concertos da Sinfônica Brasileira no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Não é o fim da OSB, é claro. Na verdade, pode ser até um “recomeço” – e o futuro dirá se Roberto Minczuk está certo ou não.
Repercussão no exterior
Não quero, pelo menos por enquanto, tecer maiores considerações a respeito, mas não resisto à tentação de assinalar a repercussão (um tanto negativa, por parte principalmente dos músicos) que essa crise vem tendo no exterior. Cito como exemplo a série de artigos que Norman Lebrecht, articulista do Arts Journal, já publicou sobre essa celeuma.
Obs: Para melhor compreender tudo isso, é imprescindível que se leia também o Blog da OSB.
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