Achei a partitura de Nuvens Douradas! Não é a versão orquestrada por Claus Ogerman para o álbum Matita Perê, mas uma redução para piano preparada por Paulo Jobim, filho de Tom. De qualquer forma, as harmonias correspondem exatamente às da versão orquestrada, o que é mais que suficiente para eu ilustrar a minha tese sobre a alegada semelhança desta obra com "Prece", de Vadico e Marino Pinto.
Para gerar um arquivo MID de Nuvens Douradas, pensei numa transcrição literal, ou seja, para piano apenas, mas acabei extrapolando: tentando recriar o clima que emana da orquestração de Ogerman, "enriqueci" alguns trechos com o acréscimo de uma seção de cordas e duas flautas transversas. Não sei se conseguiria resultado melhor se tivesse tido mais tempo. Além disso, a percussão foi totalmente improvisada. Se alguém se dispuser a orquestrar o resto, e até a melhorar o que consegui fazer, fique à vontade.
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Já estou preparando também uma versão MID de Prece (dê uma olhadinha, amanhã mesmo, na caixa Downloads aí do lado direito).
Observação: Eu havia dito que o artigo de hoje trataria de minhas reflexões sobre o conceito de plágio. Mudei de idéia. A transcrição de Nuvens Douradas me consumiu mais horas de trabalho do que eu havia previsto inicialmente. Deixo essas reflexões para a Parte 6 desta série, a ser publicada na próxima quarta-feira, 8 de julho.
Na imagem ao lado, fez-se uma fusão de uma imagem de Tom Jobim com a de um crepúsculo (ou aurora). É como se alguém houvesse fotografado o pensamento de nosso grande mestre no instante exato em que ele compunha “Nuvens Douradas”. A despeito de tudo o que se disse a respeito dessa música, eu não tenho dúvidas de que não se trata de um plágio - mas isso eu preciso explicar com bastante calma. Antes, deixe-me colocar um fecho no assunto que eu comecei na semana passada.
Mais Roberto e Erasmo Carlos
Dois anos após a morte do maestro Sebastião Braga, ou seja, em 2007, Roberto e Erasmo Carlos foram alvos de uma nova acusação de plágio. O processo é recente, mas as músicas em litígio são bem mais antigas que as do processo anterior. Em fevereiro de 1971, a professora Erli Cabral Ribeiro Antunes registrou, na Escola Nacional de Música, a música “Aquele Amor Tão Grande”, de sua autoria. Logo após, Roberto fez um show na cidade de Paraíba do Sul (SP), e Erli aproveitou a ocasião para lhe entregar uma cópia da partitura, anotando em seu verso o telefone e o endereço para contato. Nutria esperanças de que o Rei gravasse a sua música, ou que, pelo menos, lhe desse algum retorno, o que jamais aconteceu. Mas, aí... já deu para adivinhar? Isso mesmo: naquele mesmo ano, Roberto e Erasmo registraram e gravaram Traumas. Acontece que essa música, segundo diz Erli, teria nada menos que dezesseis compassos copiados daquela partitura.
Bom, isto é o que eu sei, por enquanto. Como no caso de “O Careta”, também neste não tenho material suficiente para emitir qualquer opinião. Tudo que consegui foi a primeira página da partitura de Aquele Amor Tão Grande, que mostra apenas o primeiro dos dezesseis compassos que, teoricamente, teriam sofrido um “cut and paste”. De qualquer forma, vale o registro:
Ah, e, se achar que vale a pena, ouça aqui a música Traumas.
Há muitos outros “casos” de músicas supostamente plagiadas por Roberto Carlos, mas a grande maioria deles é meio “forçação de barra”. Destaco apenas um, por ser didático. O vídeo abaixo contem o início de uma produção de Charles Chaplin, que também fez a música, como fica bem caracterizado (em letras bem grandes, por sinal) logo no início. Preste atenção ao trecho que começa na marca dos 0:40, e depois me diga se é plágio ou não:
Eu sei que essa pergunta que eu vou fazer pode parecer meio sem sentido, principamente se você também achar que esse trecho que acabou de ouvir lembra demais o tema principal de “você, meu amigo de fé, meu irmão camarada...”, mas... é plágio?
Moacyr Franco
“Eu nunca mais vou te esquecer” foi um grande sucesso na carreira de Moacyr Franco. Ouça:
O tema do refrão (Eu nunca mais vou te esquecer, eu nunca mais vou te esquecer, meu amor) é bastante conhecido.
Agora ouça “Nessum Dorma”, da ópera Turandot, de Puccini. Preste atenção ao tema que começa na marca dos 1:15:
Calma, calma! Antes de dizer que é um plágio descarado, leia o que diz Moacyr Franco numa entrevista que deu ao site “Jornal d’aqui on line” (edição 459).
Jda: Na carreira como cantor foram 41 discos de ouro, composições suas também fizeram muito sucesso, "Eu nunca mais vou te esquecer" por exemplo?
Eu tinha feito e dado para o Altemar Dutra, para o Nelson Ned e ninguém quis gravar. Um dia estava preparando um disco e a censura que existia na época resolveu vetar uma música minha (uma brincadeira que eu fazia com a Justiça) - vetaram. Na hora era preciso decidir o que colocar no lugar - aí lembrei dessa música - colocamos - faltava o refrão entre verso e outro - lembrei da ópera Turandot. A orquestra fez um solo e imediatamente me veio - a frase: "Eu nunca mais vou te esquecer" que encaixou-se perfeitamente. E foi realmente um sucesso. De modo que costumo dividir com Puccini, mesmo sem ele ter feito nada (risos) a autoria dessa música.
FAGNER
Fagner compôs Penas do Tiê aproveitando-se de uma melodia que ele achava que fosse de autor anônimo. A música é, na verdade, do maestro Heckel Tavares, cuja família já entrou com um processo contra o cantor. Trata-se, na minha opinião, de um terrível mal-entendido:
TOM JOBIM
E chegamos, finalmente, a Tom Jobim. Aquele que eu considero o melhor compositor brasileiro da segunda metade do século XX foi, também, o alvo preferencial dos caçadores de plágio. “Águas de Março”, por exemplo, seria uma cópia de “Águas do Céu”, composta em 1956 por Leny Eversong. Já a história de Tempos Dourados é mais ou menos a seguinte: Tita, uma cantora evangélica, teria feito músicas para um disco religioso que, por coincidência, foram arranjadas, na gravadora, por João Donato e por Paulo Jobim, filho de Tom. Estranhamente, alguns dos compassos de uma das músicas desse disco teriam “aparecido”, pouco tempo depois (em 1986), na música Anos Dourados, parceria de Tom com Chico Buarque. Em ambos os casos (Águas de Março e Anos Dourados), acabo entrando no mesmo “beco-sem-saída”: não tenho as músicas que foram supostamente copiadas, portanto não posso opinar.
Mas eu quero me fixar num caso específico. Este eu tenho como comentar, e vou fazê-lo até porque merece um estudo mais aprofundado. Trata-se da esplêndida “Nuvens Douradas”.
NUVENS DOURADAS
Só muito recentemente é que eu descobri o motivo pelo qual fomos todos privados de ouvir essa maravilhosa composição (de fato, ela parece ter sido banida da história da MPB, quando merecia estar, no mínimo, ao lado das mais famosas composições de Jobim, como Corcovado, Garota de Ipanema, Samba do Avião, e por aí vai...). Essa é, em resumo, a história: a viúva de um dos primeiros parceiros de Tom, Marino Pinto, considerou que Nuvens Douradas era um plágio de “Prece”, composta por seu marido em parceria com Vadico (o mesmo de Feitiço da Vila, dele e de Noel Rosa), e ameaçou processar Jobim. Precavido, ele (ou a gravadora) retirou a música de circulação.
Encontrei, no YouTube, esta interpretação de Prece. Ouça:
Se quiser ouvir uma gravação profissional, existe uma com Altemar Dutra no site da MegaStore (você terá que clicar na música cantada por ele).
Até pouco tempo atrás, eu não estava nem aí para essa questão de plágio, e seguia a corrente majoritária, isto é, aceitava, sem discutir, tudo o que a imprensa divulgava sobre cada caso. Nuvens douradas, porém, me fez parar para pensar.
Para mim, essa música é tão diferente de “Prece”... Eu até concordo que hajam coincidências numa parte significativa do tema principal de ambas as composições, mas isso depois de analisar as duas com a razão, e não com a alma. Definitivamente, para mim são obras completamente distintas. Mas,... por que será?
O artigo já está longo demais, por isso vou terminá-lo deixando esta pergunta no ar. Dessa vez, não pretendo demorar uma semana para publicar a continuação. Será no sábado, dia 4 de julho. É que eu já tenho quase tudo escrito. Só preciso dar uns retoques, e também exemplificar melhor as comparações que farei entre Prece e Nuvens Douradas. Nesse próximo artigo, também pretendo expor algumas das minhas reflexões sobre a conveniência ou não de defendermos uma mudança de paradigma em relação ao plágio. É um assunto difícil, por isso gostaria de ser o mais claro possível. Até lá.
Esses são arquivos no formato MID. Isto significa que a sua sonoridade vai depender fortemente da qualidade da placa de som ou do chip de som onboard de sua máquina.
Eu os peguei da Internet há bastante tempo atrás e, aos poucos, fui corrigindo uma notinha errada aqui, modificando um timbre ali, enfim, fui adaptando ao meu gosto.
Na Aria de Bach quase tudo o que fiz foi modificar os timbres. Ah, e acrescentei um cravo, com o qual “brinquei” um pouco com a possibilidade de efetuar um acompanhamento de baixo-contínuo.
Na Balada de Chopin, por outro lado, eu só me lembro de ter mexido nos pedais. Eu a incluí aqui não só por sua beleza, mas também para mostrar uma das razões pelas quais eu sou entusiasta dos arquivos MID. Observem que toda a expressividade do intérprete pôde ser captada registrando-se apenas os movimentos que seus dedos impunham às teclas de seu instrumento.
Já no Concerto de Brandenburgo, eu resolvi modificar todos os timbres e ajustar os níveis de cada canal para dar um aspecto “a la Wendy Carlos”, buscando, inclusive, dar uma personalidade independente a cada um dos dez instrumentos, destacando-os do amálgama musical. Isso pode parecer um detalhe sem importância, mas tem o efeito de ressaltar notas e linhas melódicas que normalmente não se percebe individualmente quando tocadas por instrumentos de mesma sonoridade. Pode não ser a melhor maneira de se ouvir Bach, mas, para mim, é excelente para se apreciar a sua escrita contrapontística.
O Scherzo da Nona de Beethoven foi bastante mexido em relação à versão que eu baixei da Internet. Ajustei níveis, modifiquei andamentos, dinâmicas, e ainda corrigi algumas notas também. Sobre os níveis, por exemplo, achei necessário aumentar os volumes de determinados naipes, como o dos violinos e o das trompas, que na minha máquina estavam baixos demais (é bem provável que agora fiquem muito altos em outras máquinas...). Além destes, há inúmeros outros detalhes de que não me lembro mais. Agora, é como eu disse: a sonoridade vai depender do hardware.
A Sonata de Scarlatti está como o encontrei. Não achei necessário mexer em nada.
Eu resolvi mostrar aqui este vídeo, em primeiro lugar, para que vocês possam se deleitar com a habilidade deste músico. Não é todo dia que se pode ver tão de perto os dedos de um virtuose das guitarras em plena atividade.
Obs: este vídeo faz parte de um DVD didático de Rusty Cooley chamado Fretboard Autopsy.
Rusty Cooley – Guitar Lesson on 12-Note Split Patterns
Quem é Rusty Cooley?
Não acredito em magia nem em poderes sobrenaturais: o que há por trás de um bom trabalho é... muito trabalho. Qualquer pessoa saudável e com vontade será capaz de fazer o que ele faz. Um bom caminho é seguir a sua própria receita: são três horas diárias de treino, desde que ganhou sua primeira guitarra, aos quinze anos de idade. Teve professor? Sim, mas não se adaptou ao academicismo e resolveu estudar sozinho mesmo. Comprou livros, vídeos (como o Metal Method, de Doug Mark), e se dedicou. Muito importante também: ele estudou Teoria Musical.
Depois que aprendeu a tocar, fez parte da banda Revolution (entre 1989 e 1993), de onde saiu para formar a própria banda - Dominion. Esta, a propósito, nasceu e morreu em 1995, ano em que foi eleito o melhor guitarrista de Houston ao participar do Guitar Master Series. Gravou alguns CDs e depois começou a se especializar como instrutor de guitarras, o que inclui gravar coleções de vídeos didáticos, colaborar com artigos em revistas e sites especializados, e a testar produtos como os da Pro Tone Pedals. No vídeo acima, é bom que se diga, ele se apresenta como instrutor do site Rock House.
12-Note Split Patterns
O que vemos acima é Cooley ensinando uma boa forma de executar uma escala qualquer de modo que o movimento se concentre quase todo nos dedos, sem a necessidade de movimentos bruscos com a mão esquerda, fazendo com que a escala, dessa maneira, flua com muita naturalidade. Essa técnica baseia-se na quebra (split) da sequência em duas partes.
No vídeo, Cooley começa mostrando a execução da escala de Sol Maior. Ele a divide em duas partes. Na primeira (veja o vídeo na marca dos 0:29), temos as 12 notas da escala de Sol Maior. Ele começa na primeira corda (a mais grave), e quando chega à décima-segunda nota ele já está na quinta corda, executando um Re. Para executar a segunda parte, ele “retorna” uma corda, isto é, volta para a quarta corda, e sobe uma posição (veja o vídeo na marca dos 0:34). Trata-se das mesmas 12 notas, só que uma oitava acima. Na prática, o que ele faz pode ser descrito na partitura abaixo (obs: eu assinalei em vermelho o salto de notas que caracteriza o "split"):
A seguir, Cooley nos ensina a execução de outras escalas de 12 notas, mas a técnica é a mesma, ou seja, ele faz um "split", retornando uma corda e avançando uma casa. O que se poderia comentar a respeito do resto deste vídeo são as menções que ele faz aos modos gregos (dórico, mixolídio, etc.), mas isso eu deixo para uma próxima oportunidade, ok?
De qualquer modo, para treinar essas escalas, você pode baixar os mesmos backtracks utilizados por Cooley neste vídeo, clicando nos links abaixo:
O utro dia, assisti a um vídeo no Youtube que me deixou bastante curioso. Lembrei-me dos tempos em que me divertia construindo "geringonças" eletrônicas capazes de sintetizar sons que eu achava maravilhosos, mas que deviam ser uma tortura para os meus familiares (se um dia eu encontrar a fita que eu gravei com esses sons, vai ser muito divertido colocar aqui neste blog). Eis o vídeo:
Não tive tempo de me informar completamente a respeito, mas o pouco que descobri me deixou animado a (quem diria...) retirar a poeira do meu "protoboard" (sim, eu o tenho até hoje!) e voltar aos tempos em que eu ainda achava que podia construir o meu próprio sintetizador. Será que agora vai?
MAS, O QUE É O AUDUINO?
O Auduino é um sintetizador que pode ser construído por qualquer um, já que se baseia no Arduino (só troca o "u" pelo "r" na segunda letra), uma plataforma para prototipagem eletrônica de código aberto, baseada em hardware e software de fácil acesso. Isto significa o seguinte: basta copiar o seu esquema, o seu software, comprar as peças e construí-lo.
Bom, presupõe-se, é lógico, que a pessoa tenha um mínimo de conhecimento de eletrônica, mas talvez apenas o necessário para entender o esquema e diferenciar os terminais de um transistor, por exemplo.
Eu resolvi escrever este artigo não exatamente para dissecar o assunto, mas porque estou pensando em construir esse protótipo. E porque, se isso ocorrer realmente, todos poderão acompanhar aqui um diário dos meus progressos nessa empreitada. Nesse caso, obviamente, acabarei abordando tudo em detalhes.
Por enquanto, é só. Termino com este vídeo de mais um dos que se aventuraram a montar o Auduino.