23 maio 2011

Mais um pouco sobre a Crise na OSB




Outro dia mencionei aqui uma atitude tomada pelo nosso maior pianista, Nelson Freire: em solidariedade aos músicos demitidos pelo maestro Roberto Minczuk, Freire simplesmente cancelou os seus compromissos deste ano com a OSB. Cristina Ortiz, pianista brasileira de renome internacional, também tem feito o que pode. Li, num artigo publicado em 29 de abril último na coluna de Norman Lebrecht, conceituado crítico do Arts Journal, a transcrição de um apelo “pungente” feito por Ortiz aos músicos da RLPO (Royal Liverpool Philarmonic Orchestra) no sentido de que fossem mais explícitos no apoio aos seus colegas do Brasil. Esse apelo levava em conta o fato de que Minczuk seria o regente dessa orquestra em dois espetáculos programados para os dias 12 e 15 de maio. O que ela pedia, em outras palavras, é que eles “saíssem de cima do muro”. Ortiz se disse surpresa (e até decepcionada) com as declarações da RLPO de que a crise na OSB era um “assunto interno” que não lhes dizia respeito. Tentou (em vão) fazê-los ver o quanto estavam enganados por agirem como se nada de parecido pudesse lhes atingir no futuro. O artigo de Lebrecht foi publicado um dia antes do histórico concerto em que Ortiz se apresentou com todos os músicos demitidos por Minczuk.

Depois de ler esse artigo, li também os comentários. São apenas três. O de George Brown, por exemplo, chega a propor piquetes nos locais onde serão feitas as audições para o preenchimento das vagas abertas na OSB. Mas o comentário mais interessante, a meu ver, é o de Ole Bohn (spalla da Norwegian National Opera e professor do Conservatório de Música de Sydney). Em uma espécie de carta aberta aos seus colegas da RLPO, Bohn começa narrando os acontecimentos de 9 de abril, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, quando integrantes da OSB Jovem que substituiam os músicos demitidos simplesmente deram as costas para Minczuk e se retiraram do palco assim que ele ergueu a batuta. O YouTube está cheio de vídeos desse episódio constrangedor, mas eu selecionei três dos que eu considero mais representativos (ver abaixo). Bohn sugere, então, procedimentos que os músicos da RLPO deveriam adotar em repúdio ao comportamento “ditatorial” de Minczuk. Propôs, inicialmente, que eles tentassem cancelar os dois concertos a serem regidos pelo brasileiro (pelo que sei, ambos os concertos foram realizados normalmente - veja uma resenha desses concertos). Alternativamente, sugere atitudes que vão desde a simples utilização de camisetas pretas durante os ensaios e apresentações, até uma espécie de “operação padrão” - que é o que eu depreendo do trecho em maiúsculas, onde ele diz: “DON”T HELP HIM A SECOND. PLAY ONLY HOW HE BEATS, UNDER THE MOTTO ” IF YOU DON’T BEHAVE, WE WILL PLAY AS YOU CONDUCT ‘!” – em resumo: “Não o ajudem um segundo sequer. Limitem-se a tocar estritamente o que ele lhes indicar”. Tamanha animosidade parece confirmar um prognóstico do Sr.Mariano Gonçalves (vídeo abaixo): Minczuk corre o risco de ser o maior prejudicado por sua decisão.

De todo modo, músicos do mundo inteiro já começam a disputam as 33 vagas abertas em 12 naipes pela OSB, com audições em Londres, Rio e Nova Iorque. Aquela idéia dos piquetes, sugerida no comentário de George Brown, está sendo posta em prática - ao menos em Londres, onde membros do (BMU - Sindicato dos Músicos da Grã-Bretanha) se manifestaram no local das audições.

Vamos aos vídeos. O primeiro nos mostra imagens dos protestos realizados no dia 9 de abril em frente ao TMRJ, pouco antes de uma apresentação da OSB. O segundo, feito também durante essa mesma manifestação, mostra o Sr.Mariano Gonçalves, tradicional frequentador do teatro, externando sua opinião sincera sobre os fatos. O terceiro nos mostra o espetáculo em si – ou melhor, as vaias a Minczuk, e a inusitada cena em que diversos instrumentistas abandonam o palco.










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