16 maio 2011

Segundo Minczuk, “mentiras sobre a OSB não resistirão ao tempo”




Quero comentar uma entrevista dada à BBC Brasil pelo diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto Minczuk, a respeito da crise deflagrada com a demissão de 36 músicos da OSB no final de abril. A entrevista está neste artigo do Estadão.

Acho que deu para todo mundo perceber o que está acontecendo: Roberto Minczuk fala em “inverdades”, “distorções” e “mentiras”, sem, no entanto, dizer quais são elas. Não me parece uma atitude típica de alguém que esteja indignado. Parece mais a de alguém tentando ganhar tempo. É o que depreendo do próprio título da reportagem, quando menciona mentiras que “não resistirão ao tempo”. Que mentiras são essas que só o tempo pode desmascarar?

Desde o início achei essa história um pouco estranha. Continuo achando. Fiquei com a impressão, depois de ter lido a matéria da BBC, que Minczuk não tem uma justificativa de todo plausível para o que fez. Se tem, perdeu a oportunidade de explicitá-la. Não me refiro às demissões, mas ao que as motivou: as avaliações individuais. Eu, por exemplo, sempre achei que há apenas dois momentos para se avaliar um músico de orquestra: (1) antes de sua admissão e (2) nos ensaios. No primeiro caso, não há outro jeito: o candidato deve ser avaliado individualmente. Depois de aceito pelo grupo, não vejo razões para que se continue a testá-lo em provas do tipo "tudo ou nada". Poucos reagiriam bem a uma pressão assim. Que músico, ou artista em geral, conseguiria render normalmente com a faca no pescoço? Não conheço a metodologia de trabalho de Minczuk, mas fico cá me perguntando: será que um regente de nível internacional como ele não conseguiria detectar eventuais deficiências individuais já durante os ensaios? Acho que sim. Agora, se as deficiências com as quais ele se preocupa são sutis a ponto de só serem detectáveis em ambiente e circunstância específicos, então não são deficiências. Trata-se, na verdade, de criar uma nova orquestra a partir dela mesma. E eu só vejo duas maneiras de se fazer tal reestruturação: (1) com método e paciência, ou (2) do dia para a noite. Optou-se pela segunda maneira. Por que?

A entrevista de Minczuk era o que faltava para eu ter certeza de que essa história de avaliação de desempenho é um despropósito. Já desconfiava disso desde que tomei conhecimento das reações inflamadas que ela desencadeou mundo afora. Até nosso maior pianista, Nelson Freire, indignou-se com o motivo das demissões, cancelando todos os compromissos com a OSB em 2011. João Carlos Martins, mais comedido, também se manifestou em artigo sobre o tema, procurando incentivar a busca de uma solução negociada. Mas também deixou bem claro que não aplicaria tal metodologia nas orquestras que dirige.




Um comentário:

Anônimo disse...

Precisas reflexões! e essa história ainda não terminou... agora Minczuk, com um justificadíssimo medo de subir ao palco do TM do Rio, programa a estréia da 'nova' osb para a Sala São Paulo. A idéia é transformar, pela mágica da publicidade, uma orquestra esmigalhada e preenchida em quase 2/3 por músicos recém-chegados e cachês escolhidos entre os músicos menos providos de ética (ou mais desesperados por trabalho), em um conjunto de 'nível internacional'. Será que a platéia paulista vai engolir esse caroço?