18 maio 2009

LARANJA MECÂNICA: CD em "high definition"




Hoje o assunto é Wendy Carlos. Não falarei especificamente desta grande artista (recomendo, por enquanto, a leitura do que há a seu respeito no Google e na Wikipedia - no YouTube, pelo que vi, encontram-se somente rápidas menções nos vídeos relacionados a Bob Moog), mas vou tentar, aqui, preencher uma lacuna, traduzindo para vocês alguns dos interessantíssimos textos de seu site oficial.

O nosso primeiro artigo é a tradução do texto de capa do CD com a transcrição, em qualidade “20-bit Hi-D”, das fitas master usadas para gerar a trilha sonora original do filme Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), de Stanley Kubrick. Este CD, além da melhor qualidade sonora, contem realmente todo o material que havia sido preparado para o filme, incluindo duas faixas recentemente descobertas e que tinham ficado de fora do álbum (LP) original por falta de espaço.

Eis o artigo:

Logo após o sucesso de seu álbum Switched-On Bach, Wendy Carlos e sua produtora de longa data Rachel Elkind começaram a trabalhar com um vocoder (n.t.: spectrum follower) – um dispositivo que converte sons, tais como os da fala, em sinais eletrônicos que imitam os sobretons e ritmos do original. A idéia: criar a primeira peça “vocal” eletrônica. A peça selecionada para a transcrição: o Movimento Coral da Nona Sinfonia de Beethoven. Após muito trabalho preliminar, Rachel sentiu que, para essa peça selecionada, algum tipo de introdução era necessária, algo que preparasse o ouvinte para esta nova sonoridade de uma música já bastante conhecida. Wendy começou a trabalhar no que mais tarde resultou numa composição original e independente, intitulada Timesteps.


Wendy já tinha, conforme ela mesma disse, completado “cerca de três minutos e meio” de Timesteps quando um amigo lhe entregou uma cópia do livro A Clockwork Orange. Como tantos outros leitores, Wendy deixou-se levar pela narrativa de Anthony Burgess e sua visão de um futuro cheio de ultra-violência. Ela também se deu conta do fato de que sua música Timesteps parecia capturar com precisão a atmosfera das cenas iniciais do livro de Burgess. O trabalho prosseguiu, e Timesteps evoluiu, inconscientemente, para um tipo de poema musical baseado em Clockwork – um trabalho que, como Wendy diz, foi uma “composição autônoma com uma inesperada afinidade com Clockwork”.


Então, o mesmo amigo que havia lhe dado o livro enviou-lhe um recorte de um jornal londrino anunciando que Stanley Kubrick havia começado a produzir um filme baseado no livro de Burgess. Wendy e Rachel, ambas admiradoras de trabalhos anteriores de Kubrick, começaram a compartilhar o mesmo sonho: “Não seria magnífico se...” E então veio o anúncio no New York Times de que Kubrick havia terminado as filmagens. Timesteps também estava finalizada, e então Rachel entrou em ação. Através de uma amiga comum, a agente literária Lucy Kroll, ela entrou em contato com o representante de Kubrick nos Estados Unidos.


Timesteps e o Movimento Coral de Beethoven foram enviados a Kubrick pelo correio. Wendy e Rachel aguardaram, até que, finalmente, Kubrick lhes respondeu, perguntando se elas poderiam vir a Londres para discutir o uso da música de Wendy no filme.


Elas vieram. E viram. E não apenas concordaram com que Kubrick usasse o Movimento de Beethoven e Timesteps no filme, como também Wendy começou a arranjar / tocar uma parte da música que já havia sido contratada por Kubrick, além de trazerem novas idéias para a trilha sonora.


Neste álbum, Wendy Carlos e Rachel Elkind reuniram toda a música sugerida por Wendy, arranjada e / ou composta para este filme memorável. Além das seleções da Nona Sinfonia de Beethoven (incluindo a cintilante versão do Scherzo preparada por Wendy), e Timesteps, aqui está The Thieving Magpie (“como nós a teríamos feito, se tivéssemos tido tempo") e uma surpreendente peça de música inédita, Country Lane. Esta última peça, que descreve o quase afogamento de Alex nas mãos de seus ex-Droogs, utiliza motivos da The Thieving Magpie, além de um tema religioso medieval de Dies Irae (Dia da Ira), que é também ouvida na música título, acrescido de sons de uma tempestade autêntica (como no álbum Sonic Seasonings, de Wendy) e uma sugestão de Singin’ in the Rain. (Em seus poucos minutos, Country Lane consegue resumir a atmosfera do filme inteiro).


Eis, então, a música que você ouviu – e a que não ouviu – no filme A Clockwork Orange, de Stanley Kubrick. Esta é a única gravação verdadeiramente supervisionada por ambas as pessoas responsáveis pela trilha sonora deste filme memorável. Aqui está a única coleção completa da música de Wendy Carlos para A Clockwork Orange.


Artigo original em http://www.wendycarlos.com/+wcco.html.





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