20 julho 2009

Eumir Deodato e O Homem na Lua


Neste exato momento, há quarenta anos atrás, dois homens - os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin - estavam a poucas horas de concretizar o inimaginável (mesmo em nossos dias): colocar os pés na Lua. É, até hoje, considerado o feito mais impressionante da Ciência. Se lançamentos de Space Shuttles (que têm pouco mais que a metade da altura de um Saturno V) já são eventos inesquecíveis para quem os assiste ao vivo, imagine, então, o que não terão sido os lançamentos do Programa Apollo. Quem já foi ao Apollo-Saturn V Museum, no Kennedy Space Center, ou ao Davidson Center for Space Exploration, em Huntsville, no Alabama, Estados Unidos, e pôde ficar frente-a-frente com um dos foguetes Saturno V que não chegaram a ser lançados, simplesmente não acredita que algo tão grande e pesado (110 metros de altura e milhares de toneladas) conseguia sair do chão em perfeita estabilidade e ainda acelerar uma cápsula espacial a quase 40 mil quilômetros por hora.


Um ano antes, os cinemas do mundo todo haviam exibido “2001, a Space Odissey” (2001, Uma Odisséia no Espaço), de Stanley Kubrick (o mesmo diretor de filmes como Lolita, Spartacus, Dr.Fantástico - e que viria, mais tarde, a trabalhar com Wendy Carlos em Laranja Mecânica e O Iluminado). Foi a partir desse filme que passamos a associar os majestosos acordes iniciais de “Assim Falou Zarathustra”, de Richard Strauss, com imagens de naves e astronautas flutuando no espaço...



Em 1973, Eumir Deodato (muito provavelmente inspirado no filme de Kubrick) resolve criar a sua própria intepretação de Zarathustra:



Foi o maior momento de sua carreira. Mas foi também a origem de um mito que ganhou força principalmente entre nós, brasileiros: o de que a versão de Zarathustra que está no filme de Kubrick é a de Eumir.


A PROPAGAÇÃO DE UM ERRO

Eumir DeodatoAno passado, li um artigo na G1 (portal de notícias da Globo.com) dando a entender que o arranjo feito por Eumir Deodato para a música Assim Falou Zarathustra teria sido usado no filme de Kubrick. Eu sabia que tal afirmação era totalmente descabida porque me lembrava de uma reportagem, exibida pelo Fantástico, sobre um "brasileiro que fazia bonito nos Estados Unidos" com uma versão de "Assim Falou Zarathustra" (música conhecida, então, como o tema de 2001), que, por coincidência, fazia parte da trilha sonora da novela "O Bem-Amado". Ora, o programa Fantástico não existia antes de 1973, mesmo ano em que a tal novela foi ao ar. Fui consultar a Wikipedia, pensando em rebater a afirmação do jornalista, mas me surpreendi com o que encontrei: era de lá mesmo que ele havia extraído a sua informação. Atordoado, fui ao site oficial de Deodato, e pude confirmar o que eu já sabia: a sua versão de Zarathustra havia sido lançada em 1973. Como poderia, então, estar num filme que havia sido rodado em 1968? Veja o que há no SITE OFICIAL DE EUMIR DEODATO: "...will probably forever be associated with one song - his innovative rendition of Richard Strauss' classical opus Also Sprach Zarathustra (or more commonly known as the theme to 2001: A Space Odyssey). That single compelling song, which first appeared on his 1973 debut album for CTI Prelude, sold at least five million copies and earned Deodato his first Grammy Award, ...".

O verbete em que a Wikipedia trata específicamente sobre o filme de Stanley Kubrick acaba contradizendo o outro que fala sobre Eumir Deodato:

The end music credits do not list a conductor and orchestra for "Also Sprach Zarathustra". Stanley Kubrick wanted the Herbert von Karajan / Vienna Philharmonic version on English Decca for the film's soundtrack, but Decca executives did not want their recording "cheapened" by association with the movie, and so gave permission on the condition that the conductor and orchestra were not named. After the movie's successful release, Decca tried to rectify its blunder by re-releasing the recording with an "As Heard in 2001" flag printed on the album cover. John Culshaw recounts the incident in "Putting the Record Straight" (1981)....n the meantime, MGM released the "official soundtrack" L.P. with Karl Böhm's Berlin Philharmonic "Also Sprach Zarathustra" discretely substituting for von Karajan's version. (…)

Mais adiante, neste mesmo artigo, há, no entanto, uma referência a Deodato que, se não for lida com a devida atenção, pode induzir muita gente ao mesmo equívoco:

Also sprach Zarathustra has been widely used in many other contexts since 2001 made it well known. This includes a disco version by Eumir Deodato which was used in the film Being There, and its use as the ring entrance music for now-retired pro wrestler Ric Flair. (…)

Em geral, os textos são claros, mas o simples fato de mencionarem, num mesmo parágrafo, os nomes de Eumir Deodato e Stanley Kubrick já basta para nos incutir a falsa idéia de que há uma estreita relação entre o trabalho dos dois, que vai além do simples fato de terem escolhido a mesma peça de música.

Esta reportagem publicada no G1 (portal de notícias da Globo.com), pode, na minha opinião, dar asas à imaginação de leitores mais afobados.

O mesmo ocorre com este artigo:
O destaque está na versão funkeada de “Also Sprach Zarathustra
(Assim falou Zarathustra), tema do compositor e maestro alemão Richard Strauss, imortalizado por Stanley Kubrick no filme ‘2001 – uma Odisséia no Espaço’. Por conta deste petardo, o disco atingiu a monstruosa marca de 5 milhões de cópias vendidas, impulsionando a carrreira de Deodato no exterior e o figurando com destaque no rol dos grandes nomes do jazz-fusion da época
(ARTIGO COMPLETO).

A Wikipedia, felizmente, já está corrigida, mas até hoje tem muita gente que faz confusão com este assunto.Veja algumas das bobagens que ainda se escreve por aí:

"Uma curiosidade sobre a trilha sonora do filme: Kubrick solicitou ao seu colaborador em Spartacus, Alex North, que compusesse a trilha sonora para a película. Depois de escutar o resultado, o diretor de “2001…” não ficou satisfeito e optou pela música clássica para dar vida às famosas cenas no espaço. North só soube que sua trilha tinha sido jogada no lixo no dia da estréia do filme, e ficou furioso. Sendo que quem fez os arranjos e a orquestração foi o brasileiro Eumir Deodato." (ARTIGO COMPLETO).

"As opiniões do compositor e um dos maiores arranjadores brasileiros de todos os tempos, Eumir Deodato, sobre o terreno hoje sacrossanto da bossa podem até machucar ouvidos mais sensíveis. Deodato tem costas-quentes para falar porque sua carreira internacional é um escudo: em 1967, sua versão de Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, virou tema do filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, lançado em 1968. Ganhou um Grammy pelo tema. Desde então, fez arranjos para mais de 500 discos e trabalhou com artistas como Kool and the Gang, Björk, Tricky, entre outros" (ARTIGO COMPLETO).

"(...)ele ficou famoso quando esse arranjo fez parte da abertura do filme 2001 Uma Odisseia no Espaço (se não estou engnado)" (comentário num fórum sobre Eumir Deodato)".

Para terminar este artigo, uma pequena homenagem ao dia de hoje:



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