09 maio 2011

Como Viver de Música - 2




Sempre houve muitas formas de se viver de música. Na verdade, até quem não sabe sequer o que é um acorde de Do Maior pode viver de música. Eu, no entanto, prefiro falar dos que estão no extremo oposto: os compositores. De todos os profissionais envolvidos nesse negócio, considero-os os “grandes injustiçados”. A música não existiria sem eles, e, no entanto, aos olhos do grande público eles são em geral quase tão "invisíveis" quanto os engenheiros de som de um estúdio de gravação. Com raríssimas exceções, vivem “à sombra” dos que gravam as suas músicas. Querem ver? Alguém sabe quem compôs, por exemplo, “One Time”, um dos grandes sucessos de Justin Bibier? Não, não foi o próprio cantor. Dou uma dica: foram três.

O mote para esta minha série de posts foi justamente uma história contada por Leoni em seu blog, a respeito de um programador de computadores que se demite do emprego para virar compositor em tempo integral. Ao lê-la, dei-me conta da revolução que está em curso: a popularização da Internet e o surgimento de softwares gratuitos de produção musical estão permitindo o surgimento de uma nova profissão – a do compositor autônomo.

Em geral, a composição é um ato solitário. Mas pode, também, ser um ato coletivo, como nas parcerias. Tenho ouvido falar, inclusive, no conceito de “composição colaborativa”, em que vários indivíduos se reunem (ou se comunicam por email, etc.) para compor uma peça musical. Não deixa de ser uma experiência interessante. É mais ou menos o que acontece quando uma turma de grafiteiros se reúne para pintar um grande muro – surge daí uma obra coletiva. Pois o que eu tenho para dizer aqui vale tanto para o compositor individual quanto para uma "equipe" de compositores.

O caso de Coulton (o programador que se demite para viver de música) é exemplar. O que mais me impressiona em sua história é a coragem com que ele se lança na empreitada, partindo praticamente da estaca zero. A confiança em si mesmo é a chave do sucesso. No fundo, talvez achasse o seguinte: “há um certo público disposto a ouvir determinado tipo de música; eu sou o cara que faz esse tipo de música; tenho, então, que fazê-la e levá-la àquele público”.

Coulton venceu porque foi atrás de um público que sempre foi seu. Nem ele nem seu público se conheciam. A Internet facilitou esse encontro. Mas isso só não bastou. Ao longo do tempo, foi preciso se que ele se mantivesse fiel a si mesmo. Preservar um estilo próprio é sempre fundamental para qualquer artista, pois fortalece o vínculo já estabelecido entre ele e os fãs do seu trabalho, permitindo, inclusive, que ele conquiste novos admiradores sem perder os já conquistados. Guiar-se pela cabeça do público, por outro lado, é um grande erro. O público é muito heterogêneo. Tentar adivinhar as suas preferências poderá levá-lo a uma verdadeira “salada-russa” de estilos. Você poderá até ganhar novos seguidores, mas perderá os que já tinha. Evite a tentação de tentar agradar a todos: nem Jesus conseguiu isso.

Ser coerente consigo mesmo é muito mais simples e, por incrível que pareça, mais efetivo. Isto não significa que devamos evitar os modismos. Explico melhor: a toda hora surgem novas “ondas” na Música. Na década de 50, surgiu o rock, depois a bossa-nova, etc. Um bom compositor pode experimentar em todos esses gêneros, e ainda assim manter um estilo bastante pessoal – por que não? Tom Jobim, por exemplo, começou compondo sambas-canção, para depois se tornar um dos líderes do movimento da bossa nova, estilo que ajudou a criar. Mas ele compôs, também, a Sinfonia de Brasília, uma peça orquestral. Depois, no início da década de 70, lançou Matita-Perê, também predominantemente sinfônica.

Se você acha melhor escolher um tipo de música baseada no gosto da maioria, independente até do seu próprio gosto pessoal, talvez não esteja na carreira certa. Talvez fizesse mais sucesso como produtor, e não como criador.

E o dinheiro?

Bom, estabelecer o preço de um produto não é tarefa fácil. Deve-se atentar para as reações do mercado. É ele que vai dizer se determinada coisa está barata ou cara. A fórmula encontrada por Coulton, por exemplo, foi bastante efetiva: ele deixou que os seus próprios clientes sugerissem o valor de suas músicas. Outra idéia excelente que ele teve foi divulgar e manter atualizada em seu site a média dessas propostas, de modo que os novos clientes pudessem ter uma idéia do valor que poderiam sugerir.

(artigo anterior: Como Viver de Música - 1)




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