07 julho 2011
Edu Lobo: “Músicos estupidamente demitidos por questões estúpidas”
O Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, foi palco, ontem à noite, de um espetáculo memorável em benefício dos 33 músicos demitidos da OSB (eram 36, mas 3 acabaram sendo readmitidos). Para quem está pegando o bonde agora, vale a pena dar uma lida no texto que o Teatro Oi Casa Grande disponibilizou em seu site – do qual destaco o seguinte trecho:
(...) A luta da classe começou – com a solidariedade da maioria absoluta dos músicos do Rio de Janeiro. Rapidamente, juntaram-se ao protesto não apenas músicos de todo o país, mas também sindicatos e organizações pelo mundo afora, protestando contra o arbítrio e as ameaças de demissão caso os músicos não realizassem as provas.
A todos esses músicos se juntaram não apenas jornalistas e críticos internacionais e brasileiros – como Alain Lompech, Norman Lebrecht, Luiz Paulo Horta – como alguns dos maiores nomes da música brasileira – intérpretes como Cristina Ortiz, Nelson Freire e Antonio Meneses; regentes como Isaac Karabtchevsky, Roberto Tibiriçá, Alceo Bocchino, Osvaldo Colarusso e Ricardo Rocha; compositores como Marlos Nobre e Edino Krieger, Cristina Ortiz, Roberto Tibiriçá, Nelson Freire e Ana Botafogo foram alguns dos intérpretes que desmarcaram seus compromissos agendados com a OSB.
Já existe um vídeo do evento de ontem:
Uma explicação para o título desse post: ele foi extraído do breve discurso com que Edu Lobo iniciou a sua apresentação. Acho que todos se surpreenderam um pouco (eu, inclusive) com a relativa discrição com que ele se manifestou. De todo modo, seu gesto foi lindo, e vale mais do que mil discursos.
A orquestra foi composta pelos 33 ex-integrantes da OSB e por músicos de outras orquestras do Rio. A regência ficou a cargo de Carlos Prazeres. O solista é Carlos Malta. Nesta reportagem do IG há uma série de fotos desse momento histórico. É confortante visualizar nelas a platéia lotada, e a expressão de satisfação dos músicos – em especial de Edu Lobo. Espero sinceramente que sua iniciativa venha a ter a devida repercussão na mídia. De qualquer forma, essa história, como bem diz um dos comentários que recebi, está longe de terminar. Vejamos o que ocorrerá daqui a algumas semanas, quando a “nova” OSB iniciar sua temporada com as "ausências notáveis" de Nelson Freire e de Cristina Ortiz. Enquanto isso, o cineasta Silvio Tendler vem acompanhando toda essa celeuma desde o início, recolhendo material para um futuro documentário sobre a crise na OSB. É mais uma garantia de que essa história não cairá tão fácil no esquecimento.
Bom, enquanto não encontro mais vídeos do show de ontem, vejam ao menos este, do ensaio:
Para aqueles que quiserem acompanhar os acontecimentos um pouco mais de perto, indico, VEEMENTEMENTE, a leitura do Blog da SOS OSB.
Finalizo esse meu post com a transcrição da Carta Aberta de Marlos Nobre a Roberto Minczuk:
CARTA ABERTA PARA ROBERTO MINCZUK
Roberto, estou angustiado ao escrever esta carta, ao ver um regente como você envolvido nesta situação constrangedora e triste.
Você, Roberto, não teve ninguém perto de você para lhe abrir os olhos ante a imensa tolice que foi toda esta situação criada na Orquestra Sinfônica Brasileira?
Eu lhe escrevo como um Maestro e compositor que conheceu um Roberto ainda nos seus 10 a 12 anos de idade, participando do Concurso de Jovens Instrumentista que organizei em 1974 nos “Concertos para a Juventude” na Rede Globo e Radio MEC. Nele, você se destacou com jovem talento, promissor o bastante para que eu lhe desse de presente uma trompa novinha em folha (a sua, na época era impraticável). Lembro anos depois, no seu concerto de estréia como regente da OSB no Rio, ter sido procurado pelo seu velho e honrado pai, com lágrimas nos olhos, me dizendo que aquela trompa estava guardada em um invólucro de vidro, emoldurando a sala de estar da sua casa paterna. Foi extremamente comovente então, ver seu pai visivelmente feliz vendo sua estréia como regente titular da grande e prestigiosa Orquestra Sinfônica Brasileira. Entre outras obras você então dirigiu a Sinfonia “Heróica” de Beethoven. E a nossa OSB respondeu à altura aos seus gestos, dando na ocasião uma intepretação memorável da obra. Estes mesmos músicos que agora sofrem com a implacável perseguição e ira absolutamente incompreensíveis de você, como diretor da OSB.
Pois bem, Roberto, assim como seu pai, um velho e honrado músico, eu aprendi que não é possível fazer música senão com o espírito leve, aberto, ligado apenas no dever maior de intérprete que é o de revelar a grande mensagem de amor, compreensão universal e respeito mútuo que emanam de toda grande obra musical. Não é possível aos músicos renderem o máximo de suas qualidades, frente à arrogância, à falta de respeito, à imposição, à desumanidade, à inépcia humana de quem está a lhes impor e não a lhes dar condições de criar a maravilhosa mensagem da Música.
"Roberto, aquele menino a quem dei uma trompa hoje é motivo da maior decepção que jamais tive em minha vida."
Roberto, aquele menino a quem dei uma trompa hoje é motivo da maior decepção que jamais tive em minha vida. Uma decepção profunda e irreversível .Você, e somente você, é o responsável por uma situação inédita na música sinfônica do Brasil, ao submeter uma orquestra inteira a um vexame público demitindo com requintes de crueldade e desrespeito pelo passado deles, mais da metade de seus componentes através de pretextos os mais inaceitáveis possíveis. Nem o pretexto de maior qualidade musical seriam justificação para um tal elevado grau de agressividade humana, artística e pessoal de que vitimas nossos músicos da OSB. Você não respeita idade, serviços prestados, idealismo nem humanidade. Todos estes valores essenciais nas relações humanas e artísticas vão para o ar em suas mãos, neste momento triste da história da música no Brasil.
A destruição dos ideais que sempre foram a grande força da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto, você não conseguirá. Aliás vejo com tristeza que você está conseguindo se destruir de uma maneira tão perfeita, tão definitiva, tão veemente como jamais o maior inimigo seu seria capaz, nem teria tal grau de imaginação destrutiva.
"Como compositor não desejo que nenhuma obra minha seja jamais executada por este arremedo de Orquestra Sinfônica"
Sua auto-destruição me choca pois me parece que você, Roberto, entrou em tal processo negativo sem volta nem retorno, pois sequer se dá conta que, não só no Brasil, mas em qualquer país do mundo onde você entrar no palco, para dirigir uma orquestra, terá como resposta o desprezo e a desaprovação do público e do mundo musical.
Como compositor não desejo que nenhuma obra minha seja jamais executada por este arremedo de Orquestra Sinfônica (que me recuso a chamar de OSB pois esta foi destruída irresponsavelmente por você), dirigida por você.
Não autorizo nenhuma obra minha tocada senão pela verdadeira ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA que aprendemos a amar, a reverenciar e a proteger, de desmandos de eventuais passageiros da desesperança, da agressão moral e do desrespeito.
MARLOS NOBRE
06 julho 2011
Roger Williams – Girl from Ipanema
Essa interpretação de Garota de Ipanema foi disponibilizada recentemente no YouTube. Achei que não poderia deixar de mencioná-la aqui, principalmente depois de tudo o que escrevi num artigo anterior sobre Roger Williams. Espero que apreciem.
11 junho 2011
Gershwin Piano Quartet no Teatro Municipal do Rio
Para a apresentação do magnífico grupo suíço Gershwin Piano Quartet, segunda-feira passada, dia 6 de junho, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, reservou-se nada menos que os quatro melhores pianos de cauda disponíveis em salas de concerto do Estado do Rio de Janeiro. Todos são da marca Steinway & Sons, a mais conceituada do mundo. Mas de que adianta isso se os instrumentos não se apresentam no melhor de sua forma? A reportagem do IG flagrou o estado preocupante de um deles, mostrando claros sinais de infestação por brocas (ou serão cupins mesmo?). Além disso, dois dos pianos tinham um pedal quebrado. É uma pena, realmente, dado o alto nível técnico e artístico do conjunto, como se pode ver nos vídeos abaixo. No primeiro deles, o grupo executa uma obra de Stefan Wirth, “Tango-Fugue on a Theme by Astor Piazzolla”. O segundo nos mostra a visita que os quatro pianistas fizeram à China, e também uma interpretação do Rhapsody in Blue, de Gershwin, que descamba repentinamente para o “gran finale” de La Valse, de Ravel:
09 junho 2011
Teatro Municipal de São Paulo reabre esta semana
O Teatro Municipal de São Paulo, totalmente reformado, será reaberto ao público no dia 12 de junho. O vídeo abaixo, da tv Estadão, descreve em detalhes o resultado do trabalho iniciado há quase 3 anos:
(fonte: Estadão)
Vale a pena ver também esta imagem em 360 graus obtida pelo G1.
Rafael Cortez, do CQC, lança CD de violão
Antes de se tornar humorista, Rafael Cortez pensava em ser violonista clássico. O fato de ter gasto boa parte do que ganhou como repórter do CQC na gravação de um álbum independente de música instrumental é prova de que ele jamais desistiu de seu sonho. O álbum, que se chama “Elegia da Alma”, contem 15 composições próprias, elaboradas entre 1996 e 2010, e será lançado num show marcado para a próxima quarta-feira, dia 15 de junho, no Tuca. Vejam a reportagem da tvFolha:
(fonte: Folha)
08 junho 2011
Sung-Bong Choi
Mais um talento nato. Dessa vez, foi no Korea's Got Talent. Se, depois de assistir ao vídeo abaixo, você se comover com a história desse rapaz de 22 anos e achar que ele leva jeito para a carreira de cantor, demonstre o seu apoio acessando a sua página no Facebook.
31 maio 2011
Viva Roger Williams!
Meus amigos, começo este post falando da entrevista que Maurício Manieri deu para o Jô Soares, em seu programa de quarta-feira passada. “Como assim, Jô Soares e Maurício Manieri?!” Calma que eu já chego lá.
O Manieri (acho que poucos sabem) não é só cantor e compositor – digo isso principalmente aos que só se lembram dele por sua participação no reality show “A Fazenda”. Ele é bem mais do que isso. Uma rápida consulta na Wikipedia nos revela um músico talentoso, com boa formação pianística, e que já foi inclusive tecladista de importantes bandas e artistas nacionais e internacionais. Mas voltemos à tal entrevista. Lá pelas tantas, Manieri comentava o “cagaço” que tem de cemitérios, quando se lembrou da viagem que ele e sua mulher fizeram a Paris, onde visitou o Pére-Lachaise, maior cemitério daquela cidade. Disse ao Jô que tem pavor de lugares como aquele, mas abriu uma exceção porque queria visitar o túmulo de Chopin. Não há dúvidas de que Manieri gosta realmente de Chopin: além de ouvir suas obras, também as toca. E foi aí que eu me surpreendi: ele podia ter tocado qualquer coisa simples do grande mestre polonês (um prelúdio, por exemplo), mas optou por um trecho do Estudo Opus 10 no.12 - o famoso “Estudo Revolucionário”. E é aí que eu chego a Roger Williams, porque toda vez que ouço esse Estudo eu me lembro do momento em que o ouvi pela primeira vez. Eu ainda era criança, mas me lembro perfeitamente de quando meu pai chegou em casa com um álbum desse pianista e o colocou no toca-discos. O álbum era o “Love Theme from GodFather” (Love Theme from "The Godfather" (Kapp KS3665, 1972)), e a faixa que mais me impressionou foi exatamente a em que ele toca uma versão do tal Estudo de Chopin.
Aí, pensei: “por que não falar sobre isso em meu próximo post?” Para começar, então, fiz uma rápida pesquisa. A primeira coisa que descobri sobre Roger Williams foi que ele tem um site oficial – e que está vivo. “Que bom”, pensei. Está com 86 anos (como o tempo passa!), mas continua dando os seus “concertos” (ele tem até a sua própria orquestra, que o acompanha em todos os shows).
Mas eis que vejo a seguinte mensagem num dos cantos de sua página oficial: “Clck Here to Read a SPECIAL NOTE FROM ROGER WILLIAMS”. Uma nota especial? O que seria? Nessa nota (datada de março deste ano), Williams revela que está com câncer no pâncreas. O prognóstico não é nada animador. Roger, no entanto, diz que não se abateu, que está decidido a lutar contra a doença, e que quer compartilhar essa luta com o seu público, que é quem, em sua opinião, permitiu que ele tivesse vivido até hoje fazendo o que mais gosta, ou seja, tocando piano. Além disso, diz que não pretende cancelar os shows já programados (incluindo o comemorativo ao seu 87º aniversário, em 1 de outubro). Paralelamente, fará um tratamento quimioterápico, numa tentativa de reduzir o tumor até que este possa ser retirado cirurgicamente. Sorte para ele! (coloquei uma tradução de sua nota no final deste post)
Roger Williams talvez seja mais conhecido entre nós, brasileiros, (e principalmente entre os mais jovens) por uma música apenas: o tema do filme “Em Algum Lugar do Passado” (“Somewhere in Time”). A música é de John Barry. Mas é Williams quem a toca – eu coloco essa informação em destaque porque é assim que ela aparece nos créditos do filme. O vídeo abaixo contem a gravação “oficial”, ou seja, a que foi utilizada no filme e, portanto, inserida no álbum de sua trilha sonora:
Já no vídeo abaixo, o vemos numa apresentação ao vivo no Crystal Cathedral, em outubro de 2009. Fazia só três dias que ele tinha completado 85 anos de idade. Aqui, ele toca duas músicas interligadas: “The Rose” e, mais uma vez, “Somewhere in Time”:
Até 2004, Roger Williams já havia lançado 116 álbuns. Uma carreira e tanto, sem dúvida. Praticamente não há tema de filme romântico que ele não tenha gravado. Citarei apenas um: “Memories”, do filme “The Way We Were” (O Nosso Amor de Ontem), estrelado por Robert Redford e Barbra Streisand. A sua versão para essa belíssima melodia costumava tocar muito nas rádios FM daquela época, de tal modo que eu já a conhecia (e admirava) quando esse filme foi exibido na televisão, em 1982:
Um tema mais antigo ainda: Three Coins in the Fountain:
Infelizmente, não achei uma única gravação de sua interpretação do Estudo Revolucionário de Chopin. Ainda tenho o vinil, mas seria necessário digitalizá-lo e disponibilizá-lo no YouTube – quem sabe um dia eu não o faça? Mas tem essa interpretação de Valentina Lisitsa:
De qualquer forma, uma boa amostra do seu talento, em minha opinião, está aqui, no álbum The Solid Gold Steinway:
E nesse Claire de Lune, de Debussy:
Há, também, esta pequena amostra de Zorba, o Grego:
(amazon.com)
Para terminar, eis uma tradução de sua nota:
Quem lhes fala aqui é Roger Williams. Podem me chamar de Rog. Por mais de 50 anos, amigos como você me deram a vida com a qual eu sempre sonhei. Permitiram que eu fizesse o que eu sei fazer melhor – tocar a música do meu coração. E também compraram meus discos e CDs, e foram aos meus concertos. Talvez nem tenha sido você, mas seus pais ou avós. Mesmo assim, agradeço a todos, do fundo do meu coração.
Já que devo a minha carreira a vocês, é com vocês que eu sempre tento ser aberto e franco. É por isso que decidi compartilhar com vocês as notícias que eu acabei de receber. Estou com câncer – câncer pancreático. E isso, como eles dizem, “não é nada bom”.
Os médicos descobriram um tumor maligno no meu pâncreas. Não dá para removê-lo por causa do seu tamanho. Por isso, comecei hoje mesmo uma quimioterapia.
E o que isso tudo significa? Significa que estou em mais uma luta – a luta pela minha vida. E de luta eu entendo: este velho campeão de boxe da Marinha está indo para o tudo ou nada. Esperem por mim!
Sei que há um bocado de gente por aí travando a mesma batalha – ou que tem algum ente querido ou amigo ou vizinho na mesma situação. Estamos todos juntos nessa. Afinal, devemos lutar ou nos deitarmos à espera da morte?
Tenho um concerto marcado para este domingo em Sun City, em Palm Desert. Acreditem: estarei lá com todos os meus grandes músicos. Se este for o meu último concerto, prometo que ao menos será grande! Além disso, não vou cancelar nenhum dos meus futuros concertos, incluindo o “Vegas, the Rocky Mountain PBS Special”, o “Piano Marathon”, e um concerto extraordinário para o meu 87º aniversário no “ISU”, da Marinha. Depois desse concerto no domingo, é seguir em frente, e continuar a quimioterapia com os melhores médicos deste mundo até que o tumor esteja pequeno o suficiente para ser extirpado.
A vida certamente tem seus altos e baixos, e, francamente, às vezes a gente é pego completamente desprevenido. Mas já estou me recuperando. Espero vê-los no meu próximo concerto. Venha aos bastidores para um grande abraço.
O Manieri (acho que poucos sabem) não é só cantor e compositor – digo isso principalmente aos que só se lembram dele por sua participação no reality show “A Fazenda”. Ele é bem mais do que isso. Uma rápida consulta na Wikipedia nos revela um músico talentoso, com boa formação pianística, e que já foi inclusive tecladista de importantes bandas e artistas nacionais e internacionais. Mas voltemos à tal entrevista. Lá pelas tantas, Manieri comentava o “cagaço” que tem de cemitérios, quando se lembrou da viagem que ele e sua mulher fizeram a Paris, onde visitou o Pére-Lachaise, maior cemitério daquela cidade. Disse ao Jô que tem pavor de lugares como aquele, mas abriu uma exceção porque queria visitar o túmulo de Chopin. Não há dúvidas de que Manieri gosta realmente de Chopin: além de ouvir suas obras, também as toca. E foi aí que eu me surpreendi: ele podia ter tocado qualquer coisa simples do grande mestre polonês (um prelúdio, por exemplo), mas optou por um trecho do Estudo Opus 10 no.12 - o famoso “Estudo Revolucionário”. E é aí que eu chego a Roger Williams, porque toda vez que ouço esse Estudo eu me lembro do momento em que o ouvi pela primeira vez. Eu ainda era criança, mas me lembro perfeitamente de quando meu pai chegou em casa com um álbum desse pianista e o colocou no toca-discos. O álbum era o “Love Theme from GodFather” (Love Theme from "The Godfather" (Kapp KS3665, 1972)), e a faixa que mais me impressionou foi exatamente a em que ele toca uma versão do tal Estudo de Chopin.
Aí, pensei: “por que não falar sobre isso em meu próximo post?” Para começar, então, fiz uma rápida pesquisa. A primeira coisa que descobri sobre Roger Williams foi que ele tem um site oficial – e que está vivo. “Que bom”, pensei. Está com 86 anos (como o tempo passa!), mas continua dando os seus “concertos” (ele tem até a sua própria orquestra, que o acompanha em todos os shows).
Mas eis que vejo a seguinte mensagem num dos cantos de sua página oficial: “Clck Here to Read a SPECIAL NOTE FROM ROGER WILLIAMS”. Uma nota especial? O que seria? Nessa nota (datada de março deste ano), Williams revela que está com câncer no pâncreas. O prognóstico não é nada animador. Roger, no entanto, diz que não se abateu, que está decidido a lutar contra a doença, e que quer compartilhar essa luta com o seu público, que é quem, em sua opinião, permitiu que ele tivesse vivido até hoje fazendo o que mais gosta, ou seja, tocando piano. Além disso, diz que não pretende cancelar os shows já programados (incluindo o comemorativo ao seu 87º aniversário, em 1 de outubro). Paralelamente, fará um tratamento quimioterápico, numa tentativa de reduzir o tumor até que este possa ser retirado cirurgicamente. Sorte para ele! (coloquei uma tradução de sua nota no final deste post)
Roger Williams talvez seja mais conhecido entre nós, brasileiros, (e principalmente entre os mais jovens) por uma música apenas: o tema do filme “Em Algum Lugar do Passado” (“Somewhere in Time”). A música é de John Barry. Mas é Williams quem a toca – eu coloco essa informação em destaque porque é assim que ela aparece nos créditos do filme. O vídeo abaixo contem a gravação “oficial”, ou seja, a que foi utilizada no filme e, portanto, inserida no álbum de sua trilha sonora:
Já no vídeo abaixo, o vemos numa apresentação ao vivo no Crystal Cathedral, em outubro de 2009. Fazia só três dias que ele tinha completado 85 anos de idade. Aqui, ele toca duas músicas interligadas: “The Rose” e, mais uma vez, “Somewhere in Time”:
Até 2004, Roger Williams já havia lançado 116 álbuns. Uma carreira e tanto, sem dúvida. Praticamente não há tema de filme romântico que ele não tenha gravado. Citarei apenas um: “Memories”, do filme “The Way We Were” (O Nosso Amor de Ontem), estrelado por Robert Redford e Barbra Streisand. A sua versão para essa belíssima melodia costumava tocar muito nas rádios FM daquela época, de tal modo que eu já a conhecia (e admirava) quando esse filme foi exibido na televisão, em 1982:
Um tema mais antigo ainda: Three Coins in the Fountain:
Infelizmente, não achei uma única gravação de sua interpretação do Estudo Revolucionário de Chopin. Ainda tenho o vinil, mas seria necessário digitalizá-lo e disponibilizá-lo no YouTube – quem sabe um dia eu não o faça? Mas tem essa interpretação de Valentina Lisitsa:
De qualquer forma, uma boa amostra do seu talento, em minha opinião, está aqui, no álbum The Solid Gold Steinway:
E nesse Claire de Lune, de Debussy:
Há, também, esta pequena amostra de Zorba, o Grego:
(amazon.com)
Para terminar, eis uma tradução de sua nota:
Quem lhes fala aqui é Roger Williams. Podem me chamar de Rog. Por mais de 50 anos, amigos como você me deram a vida com a qual eu sempre sonhei. Permitiram que eu fizesse o que eu sei fazer melhor – tocar a música do meu coração. E também compraram meus discos e CDs, e foram aos meus concertos. Talvez nem tenha sido você, mas seus pais ou avós. Mesmo assim, agradeço a todos, do fundo do meu coração.
Já que devo a minha carreira a vocês, é com vocês que eu sempre tento ser aberto e franco. É por isso que decidi compartilhar com vocês as notícias que eu acabei de receber. Estou com câncer – câncer pancreático. E isso, como eles dizem, “não é nada bom”.
Os médicos descobriram um tumor maligno no meu pâncreas. Não dá para removê-lo por causa do seu tamanho. Por isso, comecei hoje mesmo uma quimioterapia.
E o que isso tudo significa? Significa que estou em mais uma luta – a luta pela minha vida. E de luta eu entendo: este velho campeão de boxe da Marinha está indo para o tudo ou nada. Esperem por mim!
Sei que há um bocado de gente por aí travando a mesma batalha – ou que tem algum ente querido ou amigo ou vizinho na mesma situação. Estamos todos juntos nessa. Afinal, devemos lutar ou nos deitarmos à espera da morte?
Tenho um concerto marcado para este domingo em Sun City, em Palm Desert. Acreditem: estarei lá com todos os meus grandes músicos. Se este for o meu último concerto, prometo que ao menos será grande! Além disso, não vou cancelar nenhum dos meus futuros concertos, incluindo o “Vegas, the Rocky Mountain PBS Special”, o “Piano Marathon”, e um concerto extraordinário para o meu 87º aniversário no “ISU”, da Marinha. Depois desse concerto no domingo, é seguir em frente, e continuar a quimioterapia com os melhores médicos deste mundo até que o tumor esteja pequeno o suficiente para ser extirpado.
A vida certamente tem seus altos e baixos, e, francamente, às vezes a gente é pego completamente desprevenido. Mas já estou me recuperando. Espero vê-los no meu próximo concerto. Venha aos bastidores para um grande abraço.
27 maio 2011
Robert Gupta e Joshua Roman – “Passacaglia”
Robert Gupta é violinista da Los Angeles Philarmonic, onde ingressou com apenas 19 anos de idade, mas também empresta o seu talento a atividades relacionadas à neurobiologia e à saúde mental.
Joshua Roman foi o pricipal cellista da Orquestra Sinfônica de Seattle de 2006 (quando tinha 22 anos) a 2008. É o mais jovem solista a ingressar nessa orquestra.
A peça tocada no vídeo abaixo foi escrita por Johan Halvorsen para violino e viola (Roman executa a parte da viola num cello Stradivarius). A apresentação ocorreu no palco da TED Talks.
26 maio 2011
Qual é a graça da Música Clássica?
Quem disse que a Música Erudita não pode ser divertida?
Às vezes, não é a música em si que é divertida, mas o seu intérprete. É o caso de Victor Borge, pianista e comediante dinamarquês (foto ao lado).
No vídeo abaixo, ele interpreta a Abertura de Guilherme Tell, de Rossini... de trás para frente!
Agora, ele e o violinista Anton Kontra interpretam Csardas, de Vittorio Monti:
Ainda as Csardas, desta vez com a virtuose da flauta doce Michala Petri, sua conterrânea:
Outro intérprete divertido é Dudley Moore. Ele ficou mais conhecido como ator e comediante, mas também era um músico de mão cheia. No vídeo abaixo, Moore interpreta uma peça com todas as características de uma sonata de Beethoven, exceto pelo tema, que é do filme “A Ponte Sobre o Rio Kwai”:
Beethoven, onde quer que esteja, deve ter adorado também essa versão dos Muppets para a “Ode à Alegria”, de sua Nona Sinfonia:
E teria sido a sua Quinta Sinfonia inspirada numa briga de casal?
Mr.Bean em dois vídeos, tocando uma bateria e depois um piano - ambos imaginários:
Neste post, há uma seleção de desenhos animados, todos relacionados à Música, que eu considero os mais divertidos que eu já vi.
E neste, há alguns vídeos de Richard Grayson. Aqui a diversão fica por conta de sua impressionante capacidade de improvisar qualquer tema (eu disse QUALQUER TEMA) no estilo de qualquer compositor erudito (que tal “Singing in the Rain” ao estilo de Wagner?).
Outras vezes, nem compositor nem intérprete são capazes de prever a reação da platéia a determinadas músicas. O segundo movimento da Simple Symphony, de Benjamin Britten, costuma provocar risos discretos entre os espectadores:
Às vezes, não é a música em si que é divertida, mas o seu intérprete. É o caso de Victor Borge, pianista e comediante dinamarquês (foto ao lado).
No vídeo abaixo, ele interpreta a Abertura de Guilherme Tell, de Rossini... de trás para frente!
Agora, ele e o violinista Anton Kontra interpretam Csardas, de Vittorio Monti:
Ainda as Csardas, desta vez com a virtuose da flauta doce Michala Petri, sua conterrânea:
Outro intérprete divertido é Dudley Moore. Ele ficou mais conhecido como ator e comediante, mas também era um músico de mão cheia. No vídeo abaixo, Moore interpreta uma peça com todas as características de uma sonata de Beethoven, exceto pelo tema, que é do filme “A Ponte Sobre o Rio Kwai”:
Beethoven, onde quer que esteja, deve ter adorado também essa versão dos Muppets para a “Ode à Alegria”, de sua Nona Sinfonia:
E teria sido a sua Quinta Sinfonia inspirada numa briga de casal?
Mr.Bean em dois vídeos, tocando uma bateria e depois um piano - ambos imaginários:
Neste post, há uma seleção de desenhos animados, todos relacionados à Música, que eu considero os mais divertidos que eu já vi.
E neste, há alguns vídeos de Richard Grayson. Aqui a diversão fica por conta de sua impressionante capacidade de improvisar qualquer tema (eu disse QUALQUER TEMA) no estilo de qualquer compositor erudito (que tal “Singing in the Rain” ao estilo de Wagner?).
Outras vezes, nem compositor nem intérprete são capazes de prever a reação da platéia a determinadas músicas. O segundo movimento da Simple Symphony, de Benjamin Britten, costuma provocar risos discretos entre os espectadores:
25 maio 2011
Jackie Evancho - Ombra Mai Fu, de Handel
Jackie Evancho, que ficou em segundo lugar no Got Talent americano do ano passado, gravou para a npr music uma versão de “Ombra Mai Fu”, de Handel. Acho que vale a pena ouvir essa interpretação (clique no link abaixo), e depois rever a sua performance no Got Talent. Torço para que estejamos revendo esses mesmos vídeos daqui a dez, vinte, cinquenta anos, só para nos lembrarmos de como se deu o surgimento de uma grande estrela.
Especial para a npr music: Jackie Evancho - Ombra Mai Fu, de Handel
Participação de Jackie Evancho no America's Got Talent:
Especial para a npr music: Jackie Evancho - Ombra Mai Fu, de Handel
Participação de Jackie Evancho no America's Got Talent:
23 maio 2011
Nigel Kennedy
Nessa foto de 1964, o garoto com cara de quem preferia estar em outro lugar é Nigel Kennedy com cerca de 7 ou 8 anos de idade. É a mesma pessoa que aparece em outro vídeo já postado aqui, numa performance brilhante de “O Verão”, das Quatro Estações de Vivaldi - obra que o ajudou a se tornar bastante conhecido (sua gravação de "As Quatro Estações" com a English Chamber Orchestra, em 1989, vendeu mais de 2 milhões de cópias, e é um dos álbuns clássicos mais vendidos de todos os tempos).
A foto, portanto, é enganadora, pois não deixa antever um décimo da paixão com que esse músico vem se dedicando à sua arte desde a mais tenra idade. Contribui para isso o fato de que pertence a uma linhagem de músicos da mais alta estirpe (seu avô, Lauri Kennedy, foi primeiro cellista da BBC Symphony Orchestra, tendo tocado com os maiores nomes da época, tais como Fritz Kreisler, Jascha Heifetz e Arthur Rubinstein) e também o fato de que teve a melhor formação possível: foi aluno de Yehudi Menuhin e, mais tarde, de Dorothy DeLay, na Julliard School.
No vídeo abaixo, Nigel (ao violino) e Juliet Welchman (ao cello) executam algumas das Invenções a Duas Vozes de Bach (1, 14, 8 e 6). Confesso que só as conhecia nas interpretações de cravistas e alguns pianistas, como Glenn Gould e João Carlos Martins – jamais pensei que soassem tão bem com instrumentos de corda. Não se impressionem com o “jeitão” de Nigel : ele parece se sentir em casa, mesmo diante de uma platéia exigente e de músicos do mais alto nível.
Mais um pouco sobre a Crise na OSB
Outro dia mencionei aqui uma atitude tomada pelo nosso maior pianista, Nelson Freire: em solidariedade aos músicos demitidos pelo maestro Roberto Minczuk, Freire simplesmente cancelou os seus compromissos deste ano com a OSB. Cristina Ortiz, pianista brasileira de renome internacional, também tem feito o que pode. Li, num artigo publicado em 29 de abril último na coluna de Norman Lebrecht, conceituado crítico do Arts Journal, a transcrição de um apelo “pungente” feito por Ortiz aos músicos da RLPO (Royal Liverpool Philarmonic Orchestra) no sentido de que fossem mais explícitos no apoio aos seus colegas do Brasil. Esse apelo levava em conta o fato de que Minczuk seria o regente dessa orquestra em dois espetáculos programados para os dias 12 e 15 de maio. O que ela pedia, em outras palavras, é que eles “saíssem de cima do muro”. Ortiz se disse surpresa (e até decepcionada) com as declarações da RLPO de que a crise na OSB era um “assunto interno” que não lhes dizia respeito. Tentou (em vão) fazê-los ver o quanto estavam enganados por agirem como se nada de parecido pudesse lhes atingir no futuro. O artigo de Lebrecht foi publicado um dia antes do histórico concerto em que Ortiz se apresentou com todos os músicos demitidos por Minczuk.
Depois de ler esse artigo, li também os comentários. São apenas três. O de George Brown, por exemplo, chega a propor piquetes nos locais onde serão feitas as audições para o preenchimento das vagas abertas na OSB. Mas o comentário mais interessante, a meu ver, é o de Ole Bohn (spalla da Norwegian National Opera e professor do Conservatório de Música de Sydney). Em uma espécie de carta aberta aos seus colegas da RLPO, Bohn começa narrando os acontecimentos de 9 de abril, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, quando integrantes da OSB Jovem que substituiam os músicos demitidos simplesmente deram as costas para Minczuk e se retiraram do palco assim que ele ergueu a batuta. O YouTube está cheio de vídeos desse episódio constrangedor, mas eu selecionei três dos que eu considero mais representativos (ver abaixo). Bohn sugere, então, procedimentos que os músicos da RLPO deveriam adotar em repúdio ao comportamento “ditatorial” de Minczuk. Propôs, inicialmente, que eles tentassem cancelar os dois concertos a serem regidos pelo brasileiro (pelo que sei, ambos os concertos foram realizados normalmente - veja uma resenha desses concertos). Alternativamente, sugere atitudes que vão desde a simples utilização de camisetas pretas durante os ensaios e apresentações, até uma espécie de “operação padrão” - que é o que eu depreendo do trecho em maiúsculas, onde ele diz: “DON”T HELP HIM A SECOND. PLAY ONLY HOW HE BEATS, UNDER THE MOTTO ” IF YOU DON’T BEHAVE, WE WILL PLAY AS YOU CONDUCT ‘!” – em resumo: “Não o ajudem um segundo sequer. Limitem-se a tocar estritamente o que ele lhes indicar”. Tamanha animosidade parece confirmar um prognóstico do Sr.Mariano Gonçalves (vídeo abaixo): Minczuk corre o risco de ser o maior prejudicado por sua decisão.
De todo modo, músicos do mundo inteiro já começam a disputam as 33 vagas abertas em 12 naipes pela OSB, com audições em Londres, Rio e Nova Iorque. Aquela idéia dos piquetes, sugerida no comentário de George Brown, está sendo posta em prática - ao menos em Londres, onde membros do (BMU - Sindicato dos Músicos da Grã-Bretanha) se manifestaram no local das audições.
Vamos aos vídeos. O primeiro nos mostra imagens dos protestos realizados no dia 9 de abril em frente ao TMRJ, pouco antes de uma apresentação da OSB. O segundo, feito também durante essa mesma manifestação, mostra o Sr.Mariano Gonçalves, tradicional frequentador do teatro, externando sua opinião sincera sobre os fatos. O terceiro nos mostra o espetáculo em si – ou melhor, as vaias a Minczuk, e a inusitada cena em que diversos instrumentistas abandonam o palco.
22 maio 2011
Paul McCartney – The Long And Winding Road
Paul está de novo entre nós - e desta vez para apenas duas apresentações que fará no Rio de Janeiro (o que, cá entre nós, talvez seja insuficiente para a quantidade de fãs que gostariam de vê-lo mais de perto). Nem ia tocar nesse assunto, mas é que, de repente, lembrei-me de uma linda música sua, “The Long And Winding Road”, e achei que poderia contar aqui uma das historinhas interessantes que se sabe a respeito dela.
Considero-a uma das melhores faixas do álbum "Let It Be", de 1970 (o último lançado pelos Beatles). Embora conste oficialmente como tendo sido composta por Lennon e McCartney, a verdade é que Paul a compôs sozinho, em sua fazenda na Escócia. Na ocasião, o relacionamento entre os quatro rapazes de Liverpool já não era dos melhores, e Paul parecia antever o desfecho melancólico do grupo. Saiu, então, essa canção triste, em clima de despedida. Nas palavras de Paul:
“Bastou que eu me sentasse ao piano para que essa canção me viesse. Na minha imaginação, era como se alguém como Ray Charles a tocasse. Sempre encontrei inspiração na beleza calma da Escócia. Dessa vez não foi diferente.“
A propósito, é muito provável que a “longa e sinuosa estrada” de que trata essa canção seja a B842, uma rodovia que se estende por cerca de 50 km ao longo da costa entre Kintyre e Campbeltown, na Escócia.
Em outra declaração sobre sua música, Paul diz:
“É basicamente uma canção triste. Eu gosto de escrever canções tristes, é uma forma que você tem de exteriorizar seus sentimentos mais profundos. É um bom veículo, até porque te poupa de uma visita a um psiquiatra”.
"The Long And Winding Road" foi gravada em duas sessões, uma no dia 26 e outra no dia 31 de janeiro de 1969. Mais tarde, incumbido de lapidar todo o material já gravado para o álbum, o produtor Phil Spector realizou nele uma série de intervenções, culminando com a do dia 1 de abril de 1970, quando, à revelia dos integrantes da banda, decidiu remixar por completo a faixa "The Long And Winding Road". Escolheu, para isso, a versão do dia 26. Num surto de “criatividade” e autossuficiência (presenciado, entre outros, por Ringo Starr - que, coincidentemente, estava no estúdio, mas trabalhando em outras faixas), Spector optou por arranjá-la com uma orquestração bem "menos discreta" que a habitual - só para que se tenha uma ideia, ele utilizou 18 violinos, 4 violas, 4 cellos, 3 trompetes, 4 trombones, 2 guitarras, e um coro de 14 vozes femininas. O resultado, do ponto de vista puramente musical, foi excelente. Paul, no entanto, irritou-se profundamente com o protagonismo exagerado da orquestra, que lhe pareceu totalmente inadequado ao espírito de sua composição. O maestro e arranjador George Martin, tradicional colaborador da banda (e chamado por muitos de “o quinto Beatle" pela importância de sua colaboração), também achou o mesmo. De nada adiantaram os apelos de Paul para que a orquestração fosse reduzida (algumas de suas reivindicações foram, inclusive, bem pontuais, como a eliminação pura e simples da harpa que ornamenta o acorde final da obra). Curiosa foi a posição assumida por Lennon, Harrison e Starr, que decidiram execrar não somente as escolhas de Spector mas também as de Paul. A partir daí, o racha que já havia entre os integrantes da banda alargou-se ainda mais. Essa celeuma, aliás, acabou sendo um dos seis motivos apontados por McCartney para explicar o fim dos Beatles.
Essa história é contada em muito mais detalhes na Wikipedia (em inglês).
(veja também: a partitura de THE LONG AND WINDING ROAD )
Quatro versões de “The Long and Winding Road”: (1) a versão de Spector (lançada no álbum “Let it Be”), (2) a versão original (com imagens antológicas da sessão de gravação), (3) uma fusão meio “mandrake” (mas muito bem feita) que tenta nos mostrar o que talvez seja a versão ideal na opinião de três dos Beatles (Paul de fora, obviamente), e (4) novamente a versão orquestrada, com qualidade sonora um pouco inferior à do primeiro vídeo, mas desta vez com a letra.
21 maio 2011
De Mozart a... Neil Sedaka?
Um curioso artigo da npr music... mas não há necessidade de traduzí-lo. Basta um resumo. Em poucas palavras, o autor nos fala de sua surpresa ao descobrir que Neil Sedaka, um artista popular conhecido por músicas como "Breaking Up Is Hard to Do", "Oh, Carol" e "Calendar Girl", teve uma formação musical de primeira: não somente estudou na prestigiadíssima Julliard School, como foi aluno de Rosina Lhévinne – mestra de grandes nomes da música erudita como John Williams, van Cliburn e James Levine. De fato, aos 16 anos, Sedaka chegou a vencer um concurso para jovens pianistas, de cujo júri fazia parte Artur Rubinstein. Mas o mais interessante mesmo é o fato de que, retrocedendo em sua “genealogia musical”, Sedaka estaria separado por apenas cinco “gerações” de ninguém menos que Mozart. Confira isso no gráfico abaixo, preparado pelo próprio autor do artigo (as setas indicam quem foi professor de quem):
No mesmo artigo, ele aproveita para mostrar quem foi Rosina Lhévinne, exibindo um vídeo sobre sua atividade de educadora – incluindo depoimentos de alguns de seus alunos mais famosos, como James Levine e John Williams. Eis o vídeo:
O autor termina o artigo com uma pergunta: alguém aí conhece outra relação similar entre artistas pop da atualidade e grandes compositores clássicos do passado? Quem souber de alguma, pode mandar para os comentários deste blog.
(fonte: npr music)
20 maio 2011
Audio Flowers
Tive a sorte de crescer numa casa onde se ouvia música o dia inteiro. O rádio era ligado de manhã, e desligado somente à noite, e mesmo assim por causa da televisão, onde se ouvia mais música ainda - nas novelas, nos comerciais, etc. Não havia escapatória. Onde quer que eu me encontrasse, havia música.
Algumas dessas músicas me perseguiram até a idade adulta. Ressuscitavam, muitas vezes, num momento de distração, e até mesmo em sonhos (o problema é que elas acabavam não me saindo mais da cabeça pelo resto dia).
Alguns anos atrás, cismei de procurá-las na Internet. Queria ressuscitá-las, materializá-las, exorcizá-las, sei lá. Graças ao surgimento da Google, acabei encontrando quase tudo que queria. Eu disse "quase" porque faltava encontrar uma. Sem saber nada de objetivo a seu respeito – como título, intérprete ou autor - eu já estava me conformando com a possibilidade de jamais achá-la. Nem a letra eu sabia, porque, por ser em inglês e ter sido lançada bem antes de eu aprender minhas primeiras palavras nesse idioma, não consegui memorizar um único verso. Restou-me apenas a lembrança de sua melodia – mas o Google, até onde eu sei, ainda não indexa as músicas pelas suas melodias, harmonias ou ritmos.
Acabei descobrindo a tal música: chama-se “Don’t Sleep in the Subway”, com Petula Clark. Não é preciso dizer o quanto “ralei” para encontrá-la (um dia eu conto essa história com mais detalhes). Foi como procurar uma agulha num palheiro, já que o repertório musical à nossa disposição é imenso: são milhões de músicas, de todas as eras, estilos, nacionalidades, etc. Como achar, então, uma única música entre tantas, quando não sabemos o seu título, o seu autor e o seu intérprete?
Hoje em dia, se quisermos encontrar algum texto na Internet, basta que digitemos uma ou mais palavras-chave. Em geral, isso funciona porque textos são feitos de palavras, e palavras podem ser facilmente classificadas – em ordem alfabética, por exemplo. A busca de músicas através de seus elementos puramente musicais (e não através de seus rótulos) é, no entanto, um problema bem mais desafiador.
Pois não é que um grupo de pesquisadores resolveu enfrentar esse desafio? O objetivo deles, ao que me parece, é o desenvolvimento de um mecanismo de busca de músicas na Internet – ou seja, um Google para músicas! Eles ainda estão longe de conseguir isso, mas o Audio Flowers é um passo nessa direção, pois gera a “impressão digital” de qualquer música, baseando-se apenas em seu conteúdo rítmico, tímbrico e harmônico, o que permite a sua identificação de uma forma mais objetiva (a imagem ao lado é um exemplo dessas "impressões digitais").
Cheio de curiosidade, entrei na PÁGINA DELES, ouvi os exemplos sonoros, e resolvi clicar no botão “Help Science comparing tracks” – é divertido, e serve até como teste de percepção musical.
Unchained Melody – A Noteworthy Contest
O site da Worth1000 é um verdadeiro ponto de encontro para milhares de artistas do mundo inteiro que, seja por pura diversão, seja pela busca de reconhecimento público para os seus talentos, competem saudavelmente entre si nas áreas da manipulação fotográfica, ilustração, fotografia, literatura, multimedia, entre outros. Vale a pena apreciar as imagens que concorreram ao primeiro lugar na “Unchained Melody – A Noteworthy Contest”, sobre as “Melhores Ilustrações da Worth1000 para 2011”. Foram inscritos 41 trabalhos, todos relacionados à Música. Confira na Página da Worth1000.
19 maio 2011
Lang Lang: do tormento ao triunfo
Antes de ler o resto deste post, talvez fosse bom assistir aos vídeos abaixo. Eles dão uma mostra do talento de Lang Lang, jovem pianista chinês que já está sendo apontado como a maior novidade surgida na música clássica nas últimas décadas (será exagero?). Depois dos vídeos (não deixe de ver o terceiro, em que ele toca um estudo de Chopin segurando uma laranja com a mão direita), há a minha tradução da entrevista que ele concedeu a Ivan Hewett, do The Telegraph.
O pianista chinês Lang Lang é a maior sensação das últimas décadas na música clássica. Às vésperas de se estabelecer em Londres, ele conversa com Ivan Hewett.
É mais um dia cheio na agenda lotadíssima de Lang Lang. Vestindo um terno Armani prateado, eis que ele surge no lobby do hotel em que se hospeda em Paris, recém-saído de uma reunião para tratar de sua fundação global para o incentivo à prática de música entre crianças (essa tem sido a sua obsessão, refletida inclusive nos encontros que pretende manter em sua futura estadia em Londres com grupos de jovens pianistas). Ele pede um chá, joga-se numa cadeira, e lembra, rindo, que nosso encontro estava se dando num “primeiro de abril”. Existe uma tradição similar na China? – perguntei.
“Não, não existe. E a primeira vez que ouvi falar disso foi quando cheguei à América. Mas eu tinha apenas 14 anos quando me mudei para lá. Metade da minha vida, portanto, eu vivi na América. É natural que eu já tenha assimilado algumas de suas tradições”.
O longo processo de adaptação aos hábitos ocidentais começou em 1997, quando Lang Lang ganhou uma bolsa de estudos na Curtis Institute, na Filadélfia. Essa foi sua primeira viagem para longe de casa? “Não, eu já havia estado na Alemanha um ano antes, para uma competição entre pianistas. Lembro-me de ter andado pelas ruas, visto aqueles prédios enormes e antigos, e de ter me impressionado com a solidez deles. Nós também temos prédios muito antigos na China, mas são todos feitos de madeira, de modo que, para mim, aquilo era uma grande novidade”.
Você já conhecia algo sobre a Europa nessa ocasião? Seus olhos brilharam. “Claro! Eu era totalmente maluco por futebol. Por causa disso, sabia os nomes de várias cidades britânicas, como Manchester e Liverpool, e italianas, como Perugia. Eu costumava assistir aos jogos pela tv a cabo, desde que a implantaram no início dos anos 1990”.
Que aventura não deve ter sido aquela viagem para um garoto que vinha de uma cidade quente, poeirenta e provinciana da China, onde acompanhava o futebol pela tv, tocando piano apenas “para se divertir”, como ele mesmo diz. E então veio a sua mudança para Pequim em busca de bons professores particulares de piano, na companhia de um pai ao mesmo tempo amoroso e tirânico - e convicto de que seu filho poderia se tornar o melhor pianista da China.
Sua primeira professora costumava humilhá-lo. “Ela me deixou arrasado”, disse Lang Lang com simplicidade, “disse-me que eu não tinha talento”. Existiam também discussões violentíssimas com seu pai, que o acusava de preguiçoso. A pressão era tanta que o garoto chegava ao ponto de esmurrar as paredes.
Mas um dia ele encontrou um professor que lhe devolveu a esperança. Depois da admissão no Central Conservatoire, viriam mais alguns anos de trabalho árduo. E então, ao vencer um concurso para jovens pianistas no Japão, ganhou uma bolsa de estudos na Curtis Institute.
Mas a verdadeira reviravolta em sua vida aconteceu num belo dia de 2000, quando teve que substituir às pressas um pianista que iria tocar o Concerto de Tchaikovsky em Chicago. Aquele foi o momento da revelação. Nos dez anos que se seguiram, Lang Lang tornou-se o maior fenômeno já surgido na música clássica em décadas. Tocou nos Jogos Olímpicos de Pequim para uma audiência de cinco bilhões de pessoas, seu rosto foi estampado em tablóides e revistas especializadas fazendo propaganda de marcas famosas como Armani e Audi, além de ter tocado em estádios ao lado de Herbie Hancock.
Quanto ao mundo da música clássica, esta se prostrou a seus pés. Lang Lang tem tocado com todas as grandes orquestras e em todas as mais consagradas salas de concerto.
Tanto tormento e tanto triunfo concentrados em tão poucos anos de vida deveriam fazê-lo transparecer algum tipo de cicatriz emocional. Mas não: assim como no momento em que nos fala de futebol, Lang Lang também vibra como um garoto irrequieto ao falar de Michael Jackson. Sua atração pelo showbiz nos remete ao início do século 19, quando não havia ainda uma linha divisória entre o simples entretenimento e a música de alto nível.
“É claro que a música clássica exige o mais alto grau de seriedade, mas por que não podemos também nos divertir com ela?”, disse. “A música clássica está mais próxima do meu coração, mas eu também adoro a música pop, e, para mim, artistas populares realmente grandes como Elvis e Michael Jackson alcançaram o mais alto nível artístico. Tento trazer esse conceito para dentro da música clássica quando me dirijo a uma platéia mais jovem, mesmo porque tenho a idade deles e, por isso, conseguimos ver o mundo de uma maneira parecida.”
Não por acaso, Lang Lang tem uma predileção por Franz Liszt, o maior showman entre todos os grandes nomes da música do século 19. Mas será que, para ele, Liszt foi um compositor sério? “Ele tinha um lado extravagante, mas também um lado sério, e eu gosto dessa combinação. Sinto-me próximo de Liszt justamente por ele não ter sido um “deus” como Mozart, que se aproximava da perfeição em tudo que fazia. Além disso, Liszt foi um ser humano excepcional. Ajudou muita gente, como Chopin e Wagner”.
Por outro lado, Lang Lang admite que música séria e sem extravagâncias também possa estar associada a valores especiais e apresentar seus próprios desafios. “O problema é que, com dificuldades puramente técnicas, você percebe quando as superou,” diz. “Com dificuldades musicais, não. Às vezes você vence uma batalha durante o seu estudo em casa, mas no palco a guerra continua”.
Ele também chegou à conclusão de que, além de talento e muito trabalho, existe um terceiro fator, que, por sua natureza, deve ser levado em consideração. “Eu sempre dou o melhor de mim, mas isso não significa que todo concerto será a minha melhor performance, mesmo porque há peças que exigem anos para serem perfeitamente assimiladas”.
Tais como? “O Primeiro Concerto de Brahms. Só depois da oitava performance eu senti que havia chegado perto do ideal. Ou a Sonata Hammerklavier de Beethoven, que ainda não toquei em público porque preciso adquirir maior confiança. O movimento lento é muito difícil porque há uma longa sequência em que se deve usar o pedal, mas não muito, para não soar tão romântico como em Chopin, por exemplo. Do contrário, a tensão desaparece”.
Vivendo há tanto tempo na América, será que ele já se sente ocidentalizado? “Bem, eu não estou bem certo disso. É verdade que me sinto em casa quando estou na Filadélfia, mas há coisas na cultura chinesa que me fazem falta. É impressionante como tudo aqui funciona na base do crédito. Penso que a educação nos níveis superiores seja boa, mas acho que nos níveis elementares deveria existir menos diversão e mais disciplina e respeito”.
Essa conversa já está tomando um rumo meio “confucionista”. E o que ele pensa a respeito de Amy Chua, a “mãe tigresa” que causou tanta controvérsia nos EUA ao lançar um livro que fala da disciplina draconiana chinesa? “Bem, aquilo foi um exagero. E todo exagero é ruim”.
Mas aqui ele faz uma pausa para, em seguida, sair-se com um arremate surpreendente. “Mas, na música, não se pode ficar no meio-termo. Se a música diz “presto”, você não pode fazer “moderato”. Se você fica no meio-termo, musicalmente falando, você vira uma espécie de burocrata”, disse, em tom subitamente mais inflamado.
Equilíbrio na vida, intensidade extrema na arte – este parece ser o lema de Lang Lang. Criadores visionários e audazes são certamente os seus preferidos.
“Neste exato momento, estou lendo um bocado de coisas sobre Picasso, que foi um gigante. Necessito de gigantes como Beethoven e Picasso me mostrando o caminho a seguir. Na música clássica, temos alguns compositores interessantes, que empregam conceitos inteligentes em suas peças, tais como matemática, sorte ou coisa assim.
“Dos compositores contemporâneos, entretanto, não existe ainda nenhum que fale à sociedade como um todo. Espero que tal compositor surja algum dia, no futuro”.
(fonte: The Telegraph)
A Orquestra Sinfônica
Recebi, outro dia, um email contendo um link para uma página muito bacaninha sobre a orquestra sinfônica. Trata-se de algo bem simples, mas efetivo. Passando o mouse sobre cada um dos instrumentos, mostra-se não somente uma breve explicação sobre o mesmo como também uma amostra de seu som. Acho que não custa nada dar uma olhadinha (clique na imagem para acessar o aplicativo).
18 maio 2011
Três performances fantásticas
As performances dos vídeos abaixo são de três artistas fenomenais:
Hahn-Bin (quem é Hahn-Bin?):
Nigel Kennedy (quem é Nigel Kennedy?):
Neymar (dispensa apresentações):
Só uma pergunta: esse cabelo “à Neymar” está virando moda entre os violinistas?
Jogos Olímpicos de Londres 2012: 10 coisas que você não sabia sobre os hinos nacionais
Costumo ler muitos artigos sobre música na Internet. Deparei-me com este, que achei interessante, e resolvi traduzir:
Você sabia que, no hino nacional do Congo, há a seguinte pergunta: “E se tivermos que morrer / Isso realmente importa?”. Veja aqui mais curiosidades a respeito de hinos nacionais:
1 - Deus Salve a Rainha é atribuído a Henry Carey, um compositor popular da primeira metade do século 18, embora alguns sugiram que ela seja de Handel, Purcell ou mesmo Lully, que nem inglês era – era francês. A melodia é a mesma do hino de Liechtenstein.
2 – Pouquíssimos hinos foram escritos por compositores célebres. Gounod escreveu o do Vaticano, Rabindranath Tagore escreveu tanto o da India como o de Bangladesh, e Haydn escreveu o da Alemanha.
3 - O hino alemão, com música extraída do Quarteto para Cordas em Dó maior de Haydn, foi proibido a partir de 1945 por causa da frase “Alemanha acima de tudo”, que de fato pregava inocentemente uma unidade nacional, contrariando frontalmente a legislação vigente na época. Foi novamente adotado como hino após a unificação das duas Alemanhas, mas apenas a terceira estrofe, menos exaltada que as outras, continua em uso.
4 - A Grécia possui o hino nacional mais longo do mundo. São 158 estrofes, escritas pelo poeta Dionysios Solomos (mas há uma versão resumida que consegue ser mais curta que a do Uruguai, cuja duração ultrapassa os cinco minutos).
5 - A Colõmbia, o Senegal, a Bélgica e o Equador possuem hinos escritos por ex-primeiros-ministros ou ex-presidentes.
6 – De todos os hinos, o do Japão é o que tem a letra mais antiga, escrita por um autor anônimo que viveu no século 9.
7 - Vários dos hinos de países do Oriente Médio são fanfarras sem letras – o do Catar parece ser o mais curto, durando (com extrema boa vontade) uns 32 segundos – obs: recentemente, ele foi expandido.
8 - Há a seguinte pergunta na letra do hino nacional do Congo: “E se tivermos que morrer / Isso realmente importa?”. O primeiro verso do hino da Ucrânia diz: “A Ucrânia ainda não está morta”.
9 - O compositor do hino nacional da Costa Rica, Manuel Maria Gutierrez, foi preso em 1853, e só saiu da prisão depois que compôs uma melodia considerada mais adequada para o hino.
10 - A Espanha é um dos poucos países com hinos sem letra. Um concurso para preencher essa lacuna chegou a ser aberto em 2007, mas foi cancelado devido à pouca receptividade popular.
17 maio 2011
Cancelada a demissão de Júlio Medaglia
Alvíssaras! Acabei de saber que o maestro Júlio Medaglia foi readmitido na Fundação Padre Anchieta. Ficou acertado entre ele e João Sayad, presidente da Fundação, que ambos desenvolverão um novo projeto para a Rádio e TV Cultura (relembre o episódio da demissão).
(fonte: Estadão)
16 maio 2011
Segundo Minczuk, “mentiras sobre a OSB não resistirão ao tempo”
Quero comentar uma entrevista dada à BBC Brasil pelo diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto Minczuk, a respeito da crise deflagrada com a demissão de 36 músicos da OSB no final de abril. A entrevista está neste artigo do Estadão.
Acho que deu para todo mundo perceber o que está acontecendo: Roberto Minczuk fala em “inverdades”, “distorções” e “mentiras”, sem, no entanto, dizer quais são elas. Não me parece uma atitude típica de alguém que esteja indignado. Parece mais a de alguém tentando ganhar tempo. É o que depreendo do próprio título da reportagem, quando menciona mentiras que “não resistirão ao tempo”. Que mentiras são essas que só o tempo pode desmascarar?
Desde o início achei essa história um pouco estranha. Continuo achando. Fiquei com a impressão, depois de ter lido a matéria da BBC, que Minczuk não tem uma justificativa de todo plausível para o que fez. Se tem, perdeu a oportunidade de explicitá-la. Não me refiro às demissões, mas ao que as motivou: as avaliações individuais. Eu, por exemplo, sempre achei que há apenas dois momentos para se avaliar um músico de orquestra: (1) antes de sua admissão e (2) nos ensaios. No primeiro caso, não há outro jeito: o candidato deve ser avaliado individualmente. Depois de aceito pelo grupo, não vejo razões para que se continue a testá-lo em provas do tipo "tudo ou nada". Poucos reagiriam bem a uma pressão assim. Que músico, ou artista em geral, conseguiria render normalmente com a faca no pescoço? Não conheço a metodologia de trabalho de Minczuk, mas fico cá me perguntando: será que um regente de nível internacional como ele não conseguiria detectar eventuais deficiências individuais já durante os ensaios? Acho que sim. Agora, se as deficiências com as quais ele se preocupa são sutis a ponto de só serem detectáveis em ambiente e circunstância específicos, então não são deficiências. Trata-se, na verdade, de criar uma nova orquestra a partir dela mesma. E eu só vejo duas maneiras de se fazer tal reestruturação: (1) com método e paciência, ou (2) do dia para a noite. Optou-se pela segunda maneira. Por que?
A entrevista de Minczuk era o que faltava para eu ter certeza de que essa história de avaliação de desempenho é um despropósito. Já desconfiava disso desde que tomei conhecimento das reações inflamadas que ela desencadeou mundo afora. Até nosso maior pianista, Nelson Freire, indignou-se com o motivo das demissões, cancelando todos os compromissos com a OSB em 2011. João Carlos Martins, mais comedido, também se manifestou em artigo sobre o tema, procurando incentivar a busca de uma solução negociada. Mas também deixou bem claro que não aplicaria tal metodologia nas orquestras que dirige.
Paul Mauriat – La Bikina
A belíssima música do vídeo abaixo foi composta por um mexicano. Rubén Fuentes, violinista e compositor, tinha formação clássica, mas ficou conhecido mesmo foi por suas contribuições para o gênero típico de seu país: a música de mariachi. La Bikina, lançada em 1964, é uma dessas contribuições, e foi provavelmente o seu maior sucesso. A propósito, fui olhar na Wikipedia, e descobri que La Bikina é o nome dado à personagem principal de uma lenda.
Mas o que eu queria mesmo não era falar de Fuentes, nem de suas composições, mas sim de um arranjo. Para ser franco, La Bikina não passa de mero pretexto para eu escrever sobre um maestro e arranjador francês chamado Paul Mauriat. Confesso que é de sua autoria a única versão que eu conheço de La Bikina. Ou melhor: era, porque hoje em dia não há mais versão de coisa alguma nesse mundo que já não tenha vindo à tona nas páginas do YouTube. De qualquer forma, fiquemos com essa gravação de Mauriat, que é, afinal, a que eu conheço desde a minha infância, e é, também, um dos motivos pelos quais eu comecei a querer ser músico. Ela aparece na quinta faixa do seu álbum "Paul Mauriat - Volume 12", de 1972.
Mas o que eu queria mesmo não era falar de Fuentes, nem de suas composições, mas sim de um arranjo. Para ser franco, La Bikina não passa de mero pretexto para eu escrever sobre um maestro e arranjador francês chamado Paul Mauriat. Confesso que é de sua autoria a única versão que eu conheço de La Bikina. Ou melhor: era, porque hoje em dia não há mais versão de coisa alguma nesse mundo que já não tenha vindo à tona nas páginas do YouTube. De qualquer forma, fiquemos com essa gravação de Mauriat, que é, afinal, a que eu conheço desde a minha infância, e é, também, um dos motivos pelos quais eu comecei a querer ser músico. Ela aparece na quinta faixa do seu álbum "Paul Mauriat - Volume 12", de 1972.
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