Uma sinfonia relegada ao esquecimento, considerada um marco na história da Música, foi ouvida pela primeira vez depois de 200 anos, executada pela Orquestra of the Age of Enlightenment.
A Quarta Sinfonia de Etienne Méhul derruba a antiga crença de que Berlioz teria inventado a sinfonia cíclica (na qual os temas são reutilizados ao longo de todos os movimentos da peça) quando compôs a sua Sinfonia Fantástica, em 1830. Méhul o antecedeu em 20 anos ao escrever um trabalho usando essa nova técnica (certamente inspirado na unificação de motivos que Beethoven havia acabado de experimentar em sua Quinta Sinfonia ).
“Esta foi uma descoberta tão fantástica que nos obrigará a reescrever os livros de história”, diz o professor David Charlton, da Universidade de Londres, o primeiro a ter se debruçado sobre o trabalho, em 1979. “Infelizmente, no entanto, ela parece não ter despertado toda a atenção que merece”.
A sinfonia de Méhul teve uma recepção fria em suas primeiras audiências em Paris, em 1810. Logo depois, caiu na obscuridade e jamais chegou a ser publicada. Charlton sugere que o fracasso de um outro projeto, uma ópera chamada The Amazons, acabou desanimando ainda mais Méhul, que afastou-se, então, do meio musical parisiense. Quando procurava um livro sobre composições para coral na biblioteca da Orquestra de Paris, Charlton encontrou por acaso as partituras desta sinfonia – mas apenas as partes de cada músico da orquestra, ou seja, separadas por instrumento.
“Já que não havia a partitura orquestral, eu mesmo tive que escrevê-la. Jamais me esquecerei da sensação que me brotou à medida que a música foi tomando forma no papel, tornando-se mais nítida a cada compasso, a cada parte”, disse Charlton ao “The Times”. “Eu quase soquei o teto no momento em que percebi o tema do primeiro movimento sendo reapresentado no “finale”. Dei-me conta, então, de que aquele era o protótipo da estrutura que mais tarde viria a ter grande importância na música ocidental”.
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