15 novembro 2010

Sons Espaciais



Depois de Wendy Carlos, um dos nomes mais lembrados quando se fala em música sintetizada eletronicamente é o do japonês Isao Tomita.

Nascido em 1932, Tomita teve aulas particulares de orquestração e composição enquanto estudava História da Arte na Keio University, de Tóquio. Após formar-se, em 1955, dedicou-se integralmente à composição para teatro, cinema e televisão. No final da década de 1960, ao tomar contato com o trabalho de Wendy Carlos (mais especificamente com o seu álbum Switched on Bach, que continha músicas de Bach executadas num sintetizador Moog), Tomita decidiu comprar o seu primeiro sintetizador (um Moog III) e começou a montar o seu próprio estúdio. Nele, produziu o álbum “Snowflakes are Dancing”, de 1974, uma coletânea de obras de Claude Debussy arranjadas (reorquestradas) eletronicamente. Inaugurava-se, assim, o estilo inconfundível de Tomita, que se perpetuaria nos álbuns seguintes, como O Pássaro de Fogo (transcrição da obra homônima de Igor Stravinsky), Quadros de Uma Exposição (de Mussorgsky) e Os Planetas (de Holst).

Pode-se, de fato, falar num “estilo Tomita”,  caracterizado por uma espécie de atmosfera “espacial” que ele empresta às obras clássicas, consequência do emprego de uma ampla variedade de efeitos - baseados principalmente na reverberação e no uso indiscriminado de timbres explicitamente eletrônicos (claramente artificiais) em meio aos mais “comportados” (inspirados em instrumentos acústicos). Um estilo assim casa-se com perfeição à tessitura orquestral de Os Planetas. Deste álbum, escolhi a faixa que é, de longe, a mais conhecida do grande público (principalmente dos que costumavam assistir ao “Mister M”, no Fantástico).

Marte - Parte I:



Marte - Parte II:



Os sons a seguir são também espaciais, mas no sentido estrito da palavra: vieram do espaço sideral, transmitidos por sondas enviadas pela NASA aos confins do nosso sistema solar.


Obs: o áudio acima foi obtido no site da NASA.

E, agora, os sons de Júpiter, capturados em 1990 pela Voyager:



Todos esses sons são o resultado de complexas interações magnéticas de partículas do vento solar com a magnetosfera do planeta. O resultado é surpreendente, e pode muito bem servir como inspiração para compositores de vanguarda. Veja só esta composição de Daniel Wright:



Se invertêssemos a ordem das duas músicas anteriores, seria difícil dizer qual delas foi composta por um ser inteligente e qual foi “composta” pela própria natureza. Isso me leva a crer que tal tipo de música prescinde do elemento humano. Será, então, Arte?

Outro exemplo interessante – desta vez, obra de um compositor renomado.

Edgar Varese – Ionisation:



FRONTEIRAS DA MÚSICA

Continuando a nossa viagem espacial, falarei sobre John Cage. Este compositor, em sua “viagem”, chegou virtualmente às fronteiras da música, tendo alcançado fama mundial por causa principalmente de uma única obra (que ele mesmo considera a mais importante de sua carreira de compositor): 4’33’’. Isso mesmo: o nome dela é “Quatro minutos e trinta e três segundos”. Dividida em três movimentos (Tacet I, Tacet II e Tacet III), essa música foi “composta” originalmente para o piano, mas pode ser “tocada”, segundo seu próprio autor, por qualquer instrumento ou grupo de instrumentos. Vocês entenderão melhor o que digo ao “ouvirem” a peça.

Primeiro, em sua versão “original”, para piano, com o pianista (será?) Armin Fuchs:



Uma observação: “Tacet” é uma palavra latina que significa “silêncio”.

Agora, numa versão “orquestral”:



Observe que a peça acima poderia ser, também, um “Concerto para Tosses e Murmúrios” (numa versão gravada em estúdio, sem a participação do público, serviria, também, como música ambiente para hospitais).

Agora, num vídeo didático, um jovem músico (será?) mostra como se deve tocá-la (achei muito boas as suas explicações, em que pese tratar-se de um péssimo intérprete, o que fica evidenciado pelos “erros crassos” que cometeu em alguns momentos):



Agora, sim, um grande intérprete: David Tudor. Ele foi o primeiro pianista a executá-la, num recital em Nova Iorque, em 29 de agosto de 1952. Aqui está ele numa de suas performances:

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